sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Traição pelas costas

Nota: Há uns tempos que venho publicando cartas para este meu primo Luís Bernardo sobre muitos e variados assuntos. Acontece que ele já morreu há anos mas mantém uma correspondência viva e permanente comigo dando-me conselhos e notícias de onde está. É um privilégio ter em primeira mão novas sobre o que se passa para além da morte.

Este esclarecimento era necessário para quem só agora lê esta minha carta para ele, para entender o enquadramento. Podem ser lidas no meu blogue todas as outras em: http://vdeguaratiba.blogspot.com

Meu Querido Primo Luís Bernardo,

Estamos no fim de mais um ano. Um ano da nossa vida, do nosso País. Não correu bem para quase ninguém.

Amarguras de saúde, de dinheiro, de emprego, de futuro. Cansaço de gente pouco confiável, de políticos pouco sérios, de sonhos desfeitos, de promessas vãs, de um grande bocejo.

E a vida não deveria ser assim! Tantas coisas para agradecer, imensas oportunidades para agarrar com as duas mãos, novas vidas a nascer, outras a morrer, mas o Sol continuando a brilhar, a dona Lua a aparecer a cada noite, frio, quente, soluços, medos, angústias, alegrias, esperanças, entrega, surpresas no amor, amizades novas e velhas, renovações de compromissos nunca cumpridos…um rór de tristezas e misérias, luzes e sombras.

Mas, meu querido Luís Bernardo, hás-de me explicar porque é tão difícil acreditar na fidelidade dos outros?

Refiro-me especialmente ao mundo dos negócios: quando de boa-fé te esforças para concretizares um projecto, te rodeias das pessoas competentes, trabalhas que nem um moiro e consegues pôr de pé algo visível e prometedor….há sempre a eterna dúvida, o permanente receio da traição pelas costas, da concorrência desleal!

Porquê? Que medidas tomar? Como nos precavermos e defendermos?

Agradeço-te uma resposta concreta, eficaz e pronta pois tenho negócios a caminho que não quero perder neste novo ano que começa.

E mais, poderei ganhar muito dinheiro e sabes para quê? Um niquinho para mim, o resto para dar e distribuir a quem tanto precisa neste Portugal que se esvai a cada dia.

É justo frustrarem-se as minhas expectativas e decisões por gente desonesta e sem princípios, por gananciosos sem limites?

Vá lá, por uma vez na nossa correspondência, actualiza-te e dá-me um conselho fácil de pôr em prática.

Prometo-te uma generosa comissão para as tuas caridades favoritas.

Um afectuoso abraço do teu primo amigo mas incerto sobre como proceder.

Manuel

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