Nota: Há uns tempos que venho publicando cartas para este meu primo Luís
Bernardo sobre muitos e variados assuntos. Acontece que ele já morreu há anos
mas mantém uma correspondência viva e permanente comigo dando-me conselhos e
notícias de onde está. É um privilégio ter em primeira mão novas sobre o que
se passa para além da morte.
Este esclarecimento era necessário para quem só agora lê esta minha carta
para ele, para entender o enquadramento. Podem ser lidas no meu blogue todas as
outras em: http://vdeguaratiba.blogspot.com
Meu Querido Primo Luís Bernardo,
Estamos no fim de mais um ano. Um ano da nossa vida, do nosso País. Não
correu bem para quase ninguém.
Amarguras de saúde, de dinheiro, de emprego, de futuro. Cansaço de gente
pouco confiável, de políticos pouco sérios, de sonhos desfeitos, de promessas
vãs, de um grande bocejo.
E a vida não deveria ser assim! Tantas coisas para agradecer, imensas
oportunidades para agarrar com as duas mãos, novas vidas a nascer, outras a
morrer, mas o Sol continuando a brilhar, a dona Lua a aparecer a cada noite,
frio, quente, soluços, medos, angústias, alegrias, esperanças, entrega,
surpresas no amor, amizades novas e velhas, renovações de compromissos nunca
cumpridos…um rór de tristezas e misérias, luzes e sombras.
Mas, meu querido Luís Bernardo, hás-de me explicar porque é tão difícil
acreditar na fidelidade dos outros?
Refiro-me especialmente ao mundo dos negócios: quando de boa-fé te esforças
para concretizares um projecto, te rodeias das pessoas competentes, trabalhas
que nem um moiro e consegues pôr de pé algo visível e prometedor….há sempre a
eterna dúvida, o permanente receio da traição pelas costas, da concorrência
desleal!
Porquê? Que medidas tomar? Como nos precavermos e defendermos?
Agradeço-te uma resposta concreta, eficaz e pronta pois tenho negócios a
caminho que não quero perder neste novo ano que começa.
E mais, poderei ganhar muito dinheiro e sabes para quê? Um niquinho para
mim, o resto para dar e distribuir a quem tanto precisa neste Portugal que se
esvai a cada dia.
É justo frustrarem-se as minhas expectativas e decisões por gente desonesta
e sem princípios, por gananciosos sem limites?
Vá lá, por uma vez na nossa correspondência, actualiza-te e dá-me um conselho fácil de pôr em prática.
Prometo-te uma generosa comissão para as tuas caridades favoritas.
Um afectuoso abraço do teu primo amigo mas incerto sobre como proceder.
Manuel
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