Vivemos as nossas vidas, fazemos seja o que for que fazemos
e depois dormimos: é tão simples e tão normal como isso. Alguns atiram-se de
janelas, ou afogam-se, ou tomam comprimidos; um número maior morre por
acidente, e a maioria, a imensa maioria é lentamente devorada por alguma doença
ou, com muita sorte, pelo próprio tempo. Há apenas uma consolação: uma hora
aqui ou ali em que as nossas vidas parecem, contra todas as probabilidades e
expectativas, abrir-se de repente e dar-nos tudo quanto jamais imaginámos,
embora todos, excepto as crianças (e talvez até elas), saibamos que a estas
horas se seguirão inevitavelmente outras, muito mais negras e mais difíceis.
Mesmo assim, adoramos a cidade, a manhã, mesmo assim desejamos, acima de tudo,
mais.
Michael Cunningham
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