quarta-feira, 11 de julho de 2012

O afortunado re-encontro com o meu primeiro patrão chinês


Ando há uns 3 anos a escrever para o Consulado de Portugal em Macau pedindo novas do meu primeiro patrão chinês.

Era um dos irmãos de uma família das mais ricas de Hong Kong que ocuparam lugares de relevo no topo da Administração Pública da Colónia no tempo dos Ingleses, tendo um deles sido agraciado com o título de “Sir” pela Rainha e senhor de uma colossal fortuna.

A empresa em que eu trabalhei em Hong Kong e Macau durante cerca de 7 anos, aonde fiz a minha tarimba internacional e ganhei esporas de “cavaleiro” para vir fundar em Portugal com 29 anos, o banco ESSI que daria lugar ao actual BESI, era presidida pelo dito irmão mais novo desta dinastia, com um mestrado em Engenharia nos USA numa das mais prestigiadas universidades, sendo um profissional chinês de grande inteligência, sagacidade e invulgar compreensão da cultura ocidental. Acresce que falava e escrevia o inglês na perfeição.

Fui subindo na empresa e acabei como Administrador e Vice-Presidente Internacional, mas sobretudo criámos uma enorme amizade, cumplicidade e entendíamo-nos às mil maravilhas. Os meus amigos mais íntimos conhecem histórias e aventuras dignas de umas memórias, mas isso é para outra altura, se for o caso.

Ganhei muito dinheiro, viajei abundantemente na região e conheci gente de altíssimo gabarito tanto no mundo anglo-saxónico como na comunidade chinesa desses tempos. Milionários, com tudo o que o dinheiro pode dar de luxo e prazer, mas também tantas vezes novos-ricos desenfreados competindo entre si em coisas estultas – o novo iate de mais pés do vizinho ou o mais recente modelo da Rolls-Royce ou Bentley – tudo isto já possuindo em duplicado ou triplicado motivava-os a comprar acumulando riqueza desnecessária.

No entanto, a presença britânica teve uma influência marcante em Hong Kong, pela excelência da sua colonização, o método disciplinado e eficaz da Administração Pública, o volume dos negócios e a qualidade dos Consultores, bem como a prosperidade de que todos beneficiavam.

De tudo isto gozei, aprendi, trabalhei e criei uma rede de contactos internacionais que me permitiu ter uma vida profissional cheia, variada, rica em experiências e sobretudo muito interessante.

Percebem bem porque estando neste momento de novo na China a fazer negócios com uma empresa de Pequim, dura, sem a experiência internacional que a outra tinha com quadros que só falam mandarim, me tenha vindo à mente o pensamento de, após dezenas de anos de silêncio, envidar todos os esforços para averiguar se o meu antigo patrão e amigo estaria ainda vivo.

Nesta minha recente visita à China, um dos locais aonde fui, foi a Macau. Tinha no programa a visita ao Cônsul-Geral – que o é também em Hong Kong, cobrindo assim as duas jurisdições – filho de uns grandes amigos dos meus Pais.

Tinha, mais uma vez, enviado o mesmo pedido de busca nos Arquivos do Consulado, mas desta vez ao Cônsul.

Quando me vieram buscar para a audiência, apresentou-se-me uma Senhora chinesa que me disse ser a Secretária do Cônsul-Geral, tendo acrescentado conhecer-me muito bem e perguntando se a reconhecera.

Disse-lhe que infelizmente não, pois já tinham passado muitos anos. Referiu-me então que tinha sido a Secretária de 5 Governadores de Macau e que me tinha visto muito no Palácio, o que era a pura das verdades.

Entregou-me um bilhetinho com um número de telefone, dizendo-me que tinha conseguido falar com a filha do meu antigo patrão, em Hong Kong. Fiquei petrificado e ansioso por ouvir mais informações. Um misto de angústia e tristeza se a notícia fosse a de que tinha morrido.

Muito à chinesa disse-me que não tinha perguntado à filha se o pai estava vivo e mais não acrescentou. Agradeci-lhe muito efusivamente e pareceu-me que era afinal uma primeira luz que se avistava ao fundo do túnel.

Dormi mal nessa noite pois não encontrara coragem para ligar para a filha a averiguar. Achei que se nada me tinha sido dito, possivelmente à maneira oriental, seria a filha que me queria dar a notícia directamente.

Só quando regressei a Portugal, me dispus a telefonar-lhe para Hong Kong. Apareceu-me com uma voz muito amiga e bem disposta ao telefone e passadas as trivialidades e perguntas sobre a vida dela, ousei perguntar a medo: - e o teu pai?

- Está óptimo e de excelente saúde e a trabalhar imenso. Nem queria acreditar! Foi uma reacção de grande contentamento interior, conforto e creio ser isto a que poderei chamar de verdadeira amizade.

Tudo começou de novo!

Tornámo-nos sócios numa nova empresa para fazermos negócios no Brasil e noutros países e temos o futuro à nossa frente. Assim o espero!

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