domingo, 29 de julho de 2012
Ser Diferente é uma arte.
Perguntarão, quem são ?
São espíritos livres que não se preocupam pela manhã, que desfrutam o presente com o único propósito de desafiar constantemente os seus próprios limites. São os que buscam explorar esse poder interior que todos têm, mas que só alguns demonstram e que os faz únicos e especiais, são artistas da vida cujas conquistas parecem finas pinceladas de um quadro que se converte em obra prima e não apenas em simples feitos. São aqueles que não se encaixam em nenhuma outra definição porque realmente são diferentes do resto.
Desde que tomam consciência das suas próprias características, iniciam uma jornada que os define como seres únicos e diferentes. Ser diferente é parte da sua natureza. Todavia, só alguns conseguem perceber o verdadeiro sentido. Ser diferente implica ter a habilidade de saber inspirar a outros a sua particular visão do mundo.
É por isso que…
Ser Diferente é uma arte.
quinta-feira, 26 de julho de 2012
Torralta (fim) Mário Soares e eu ou "The King and I"
A justificação da ida do Presidente Soares à Torralta, era a de entregar o prémio da Associação Portuguesa dos Escritores (Comunistas), que se desenrolaria no auditório em Tróia.
Devo confessar com toda a sinceridade que não só não sabia desse evento, como fui confrontado pelo Director Financeiro com a informação de que o cheque do prémio que o Presidente iria entregar, era “careca”, ou seja não teria provisão!
Passei esta informação ao meu primo General Carlos Azeredo dizendo-lhe que seria uma vergonha para o Presidente da República entregar um prémio cujo cheque não teria cobertura, e o Chefe da Casa Militar pediu-me para esperar enquanto iria consultar Mário Soares, tentando dissuadi-lo.
Entretanto, tudo se passava na frente dos sindicatos a quem eu paulatinamente explicava que a vinda do Presidente da República à Torralta era uma provocação ao Primeiro-ministro Cavaco Silva, que era quem tinha a tutela da Torralta, através do Governo. Viria com toda a imprensa escrita, rádios e televisões para entrevistar os trabalhadores e ouvir as suas queixas e angústias e na prática, nada adiantar, pelo contrário publicitando ainda mais a situação da Torralta que precisava de continuar a receber turistas e passantes, enquanto a situação não se resolvesse.
Sendo primos e tendo intimidade suficiente, não hesitei em dizer-lhe ao telefone tudo isto em voz alta para todos ouvirem. Estavam calados, sem nada dizer.
Veio de lá uma voz desolada do General Carlos Azeredo, dizendo-me que o Presidente confirmou-lhe que vinha e que quanto ao cheque sem provisão, o problema era da Administração da Torralta. Ele entregaria o prémio e quando o destinatário o fosse depositar, já não seria mais da sua responsabilidade. Foi ipsis verbis o que eu transmiti aos trabalhadores, perguntando-lhes o que fariam no dia da visita e eles nada responderam!
Mais uma vez fiquei tranquilo e pensei que tudo tinha feito para evitar o pior. Lembrei-me de um filme antigo com o Yul Brynner chamado “The King and I” e pensei que se poderia aplicar ao meu caso!
No dia aprazado, o Presidente Soares aterrou de helicóptero no campo de futebol trazendo atrás de si toda a imprensa, nomeadamente as televisões. O percurso até ao auditório ainda era longo e eu tinha providenciado para que o meu carro e motorista estivessem prontos para nos levar.
Estava uma manhã linda de sol e os trabalhadores, os tais 700 e tal, alinhavam-se de cada lado, fazendo alas.
Cumprimentei o Dr. Mários Soares que se me dirigiu afavelmente e bem disposto e me tratou: - Como está o Senhor Presidente? Ao que lhe respondi que quem era Presidente era ele. Respondeu-me então, que éramos dois Presidentes: ele da República e eu da Torralta!
Pedi-lhe para tomar lugar no meu carro e ele respondeu-me que estava um dia soberbo e que iríamos os dois a pé, à conversa. Entretanto, não deixou de reparar naquela mole humana de gente com um ar triste e silencioso.
Percorremos lentamente o caminho, passando entre os trabalhadores que se mantiveram num silêncio total e absoluto e quando chegámos à porta do auditório, disse-me de caras:
- Dou-lhe os meus parabéns, eu vinha preparado com a imprensa, rádio e televisões para ouvir as queixas dos trabalhadores contra o Governo e o Senhor Presidente, por milagre, conseguiu que estivessem calados. Como fez?
- Saiba V.Exª que lhes disse a verdade, a qual é tudo quanto acabou de dizer, acrescido de que ficariam ainda mais prejudicados se contribuíssem para mais quezílias institucionais, uma vez que V.Exª nada tem a ver com qualquer solução que se venha a encontrar para a Torralta.
Ficámos entendidos e devo dizer que Mário Soares que tem um charme indiscutível, dali para a frente fez com que tudo corresse com dignidade e sobriedade, e o dito cheque foi entregue nas condições que se lhe tinham comunicado, tendo o Presidente, em voz baixa, dito que sabia o problema que me estava a causar, mas que esperava que entretanto entrasse dinheiro. O montante, nesse momento, era relevante para a Torralta pois não tínhamos sequer, em caixa, os referidos Euros 2,000,00! Imagine-se a penúria!
Convidei o Presidente para almoçar no terraço do restaurante do Golfe. É uma maravilha de localização, de traçado conhecido e muito apreciado, de soberbas vistas para o mar e o ambiente não podia agradar mais ao Dr. Mário Soares e à sua comitiva.
Faço aqui um pequeno aparte, aliás doloroso pois hoje em dia estamos quase na mesma situação: era tudo fiado, ou seja não se pagava aos fornecedores que tinham proporcionado o almoço, o que para mim era um horror!
A conversa entre o Presidente, jornalistas, escritores, políticos e deputados fluía com facilidade, ajudada por generoso vinho que se servia amiúde, e eu, muito mais novo e não tendo conspirado contra ninguém nem nenhum regime, nem sequer ter estado no exílio, pois nem nascido era, estava calado polidamente, como dono da casa.
A um comentário infeliz e provocador do Presidente que aqui não reproduzo, intervim finalmente e respondi respeitosamente, mas na mesma moeda!
Mudou de assunto com galhardia e resolveu contar duas divertidas histórias que tinha vivido recentemente na sua visita de Estado, ao Reino Unido.
Afirmou que desde que era Presidente, o Protocolo de Estado tinha recuperado o seu devido prestígio, com apresentações de credenciais dos Embaixadores, de fardas e condecorações, fraque e luvas cinzentas, que as recepções em Queluz eram de gala com casaca e insígnias, enfim gabava-se de ser um entendido, eis senão quando o Protocolo do Foreign Office inglês, exige, sem transigir, que levasse luvas cinzentas e chapéu alto, quando descesse do combóio em Victoria Station e fosse ao encontro da Rainha, que aí o esperava. Confessou com simplicidade que se atrapalhou, pois nunca o tinha usado, mas levava-o na mão e assim cumprimentou Sua Graciosa Majestade.
O Dr. Mário Soares, acrescentou com bonomia que continuava a não saber falar inglês, mas que a Rainha e a Família Real, eram impecáveis no domínio da língua francesa, pelo que antes de tomar a carruagem aberta em direcção a Buckingham, perguntou à monarca o que devia fazer com o chapéu alto!
A Rainha Isabel, conta o Presidente, disse-lhe: - Em primeiro lugar ponha-o na cabeça e depois quando nos aplaudirem, tire-o e acene com ele. Dei uma forte gargalhada e naquele momento, esqueci-me do que aquela vinda poderia ter causado e apreciei o Homem, pois tinha tido muita graça.
Não contente com este episódio, narrou que estando num banquete oferecido pelo Mayor de Londres, tinha de cada lado a Rainha-Mãe e a Rainha Isabel.
Acrescentou que já tinham dito tudo uns aos outros tendo-se, por isso, criado um certo silêncio entre eles. A Rainha-Mãe era pequenina de estatura, por isso veio um criado trazer-lhe um banquinho para os pés e uma almofada para ficar ao nível de todos.
De repente a Rainha-Mãe, vira-se para o Presidente e pergunta-lhe: - O Senhor é religioso?
O Dr. Mário Soares, respondeu: Eu não, minha Senhora! - Ora ainda bem, retorquiu a Rainha-Mãe, pois assim podemos conversar sobre outros temas, pois tenho ao meu lado o Arcebispo de Cantuária que só me fala de assuntos maçadores de religião!
E assim termina o meu filme “The King and I”. Acompanhei-o ao helicóptero, despedi-me e voltei a encontrar-me muito mais vezes com ele fruto da minha vida profissional guardando sempre, entre nós, uma boa recordação destas histórias tão picarescas.
Pena, que as pessoas não saibam sair a tempo!
O resto da minha experiência na Torralta, não é preciso contar pois é conhecido.
Pertence hoje em dia aos Grupos de Belmiro de Azevedo e de Américo Amorim, que estiveram mais de 8 anos para poderem começar as obras e agora, que estão acabadas, dá gosto visitar, ficar por lá e gozar o esplendoroso cenário e tudo quanto lá se desfruta.
quarta-feira, 25 de julho de 2012
Torralta (3ª parte) a solidão do poder
Mencionei atrás a solidão do poder.
Havia um acordo entre mim e os trabalhadores: para o mercado e para os clientes tudo tinha que continuar a funcionar, desde a limpeza e qualidade do alojamento nas torres e apartamentos, manutenção impecável do golf, piscinas, restaurantes, até ao ambiente que devia pairar em Tróia e em todo o complexo da Torralta.
Eles sabiam que o parco “cash-flow” que pudesse entrar seria devido à continuação de “business as usual”!
As caldeiras avariaram-se e nas torres, sem aquecimento bem como água quente, significava o encerramento da actividade. Até ali ninguém tinha sido despedido.
Recebeu-se uns dinheiros de receitas antigas que davam ou para pagar o arranjo das caldeiras ou um mês de salário para todos!
Nas reuniões comigo a pressão maioritária dos trabalhadores e dos sindicatos era a de pagar, pelo menos, um ordenado: havia famílias estranguladas de dívidas aos bancos, aos vizinhos, sem dinheiro para comer, um sem número de razões atendíveis.
Por outro lado sem caldeiras, os meus planos de recuperação que estava a discutir com o Governo iam “por água abaixo”! Kaput, finito não haveria investidores interessados se tudo se degradasse e deixasse de estar ocupado, mesmo com níveis baixos. Entretinha as “gentes”, dava-lhes uma razão para continuarem.
Ouvi os meus colegas da Administração, consultei alguns “sábios” que sempre me aconselharam nos momentos difíceis e por último os trabalhadores e sindicatos.
Ninguém tinha uma opinião segura, certa e maioritária.
Decidi jantar no meu apartamento, que era uma penthouse com uma vista soberba sobre o mar. Um fim de tarde em silêncio e deixando a cabeça descansar. Desliguei-me do “mundo” e realizei como estava só, e como a decisão dependia a partir dali, exclusivamente de mim. A tal solidão do poder. Decidi interiormente da forma como tinha estado a reflectir durante o dia, pesei os prós e os contras e fui dormir. Sono reparador.
Levantei-me cedo, fui correr pela praia, tomei um banho e vesti-me e sentia-me perfeito e tranquilo.
Convoquei os trabalhadores e a imprensa que me esperava e anunciei que o dinheiro disponível iria para o arranjo das caldeiras. Com doçura e emoção lamentei o desapontamento que esta decisão iria criar nas expectativas de todos, mas um mês, de facto, nem resolvia os problemas financeiros de cada um e pelo contrário agravava qualquer solução de resgate que estivesse a negociar.
Não vos maço com o que se seguiu de protestos, greves, incompreensão….tive a satisfação de encontrar apoio nos que mais precisavam, pois uma vez explicadas as razões, sentiram a eventual justeza da minha decisão. Senti-me só, muito só e para que serve o poder quando nos sentimos cães lazarentos a lamber as feridas, sem festas?
Estranho que passados estes anos todos, ao escrever isto ainda sinta uma sensação de incómodo e desconforto!
Um primo meu, o General Carlos Azeredo, era o Chefe da Casa Militar do Presidente Soares, que mantinha péssimas e intratáveis relações com o Prof. Cavaco Silva, Primeiro-Ministro.
Estava, mais uma vez, numa interminável reunião com o plenário dos sindicatos, quando a secretária me trouxe o telefone dizendo-me que era uma chamada urgente de Belém.
O meu primo anunciava-me que o Presidente Mário Soares queria visitar a Torralta com a imprensa e televisões e falar com os trabalhadores com atrasos nos salários.
(continua)
terça-feira, 24 de julho de 2012
Torralta (2ª parte) a luta sindical e uma história singela
domingo, 22 de julho de 2012
Andava há uns anos sem andar à pancada!
Andava há uns anos sem andar à pancada! Pois aconteceu na 6ªf!
Cruzamento da Av. do Brasil em Lisboa. Acabadinho de ter um acidente de automóvel há um mês. O meu carro está um brinco!
Aproxima-se uma viatura e sem prudência vejo que se não me afastar depressa, vai embater no meu automóvel. Apito com força e seguido, e paramos os dois a milímetros! O condutor sai do carro e aos palavrões, avança para mim, esbracejando e dizendo que eu era isto e aquilo e que não gostava de apitadelas.
Vinha com os braços para cima, um pouco em desequilíbrio. Deixei-o aproximar, calado, e quando estava ao alcance da minha mão, dei-lhe um estaladão bem forte que o fez vacilar e a minha mão a ficar dorida.
Ficou tão estupefacto que deu meia-volta e foi-se embora.
Foi um matar de saudades, comprovando que mantenho as qualidades de manso cidadão até me chegar a mostarda ao nariz!
sábado, 21 de julho de 2012
Fui o último Presidente da Torralta - Lauren Bacall e eu
Fui o último Presidente da Torralta antes de passar para as mãos de Belmiro de Azevedo e de Américo Amorim.
Os accionistas privados da holding maioritária, gente muito rica do Norte e donos de indústrias de nomeada, pediram-me para pôr a casa na ordem e tentar recuperar a maior empresa turística de Portugal.
Era um desafio irrecusável, excelentes condições pecuniárias prometidas, apoio irrestrito dos accionistas, a liberdade de levar uma equipe da minha confiança, um património invejável e com uma tradição grande em Portugal, pois quase todas as famílias tinham títulos de férias dos manos Agostinho e José da Silva.
Tróia encantou-me desde o primeiro momento, pois as praias, a vista, o cenário eram belíssimos e a Torralta tinha um património equivalente no Algarve. em termos de hotelaria e terrenos excelentemente localizados.
Tomei solenemente posse e nesse dia saíram notícias sobre o meu perfil profissional, o que se esperava de mim, tudo posto pelos accionistas nos jornais económicos e diários e tudo prometia ser um sonho.
Nessa noite, fui entretanto avisado, que teria que jantar já na minha qualidade de Presidente com a celebérrima actriz Lauren Bacall, convidada do Festróia, uma tradição de festival da empresa e com bastante projecção nacional e internacional.
Luís Filipe Menezes, Mário Ventura, o Director do Festival, e inúmeras personalidades de relevo e de vários quadrantes políticos, olhavam para mim com curiosidade e vim a saber depois, com apetite de me comerem vivo, pois era um penetra desconhecido que iria meter o nariz nas “malvadezas” que despudoradamente cometiam numa empresa que não lhes pertencia e ao arrepio dos interesses dos milhares de pequenos accionistas que eram directamente prejudicados.
Sentei Lauren Bacall à minha direita e a conversa fluiu com o maior interesse sobre música, filmes, american way of life, amor e tristeza pela morte do seu marido e grande amor Humphrey Bogart (tinha estudado à tarde e à pressa, o seu percurso artístico, os filmes, as paixões e romances e cada traço da personalidade) e foi com espanto e lisonja que a ouvi perguntar-me o que eu fazia nessa noite depois da festa. Brejeira e provocadora, sabendo eu que ela gostava de homens novos, considerei o convite como uma proposta para um encontro.
No dia seguinte, o meu primeiro acto foi chamar o Director Financeiro e perguntar-lhe quanto tínhamos em caixa, pois sabia que havia cerca de 700 ou mais funcionários e notícias veladas, falavam de problemas salariais.
A resposta do Director Financeiro foi a de que o saldo de caixa era de Euros 3,000,00! Julguei ter percebido mal e perguntei-lhe como iríamos fazer face ao pagamento dos salários no fim do mês e ele respondeu-me que não iríamos pagar, como aliás desde há dois meses para trás!
Pedi-lhe para preparar-me um orçamento de Tesouraria e informou-me que o montante dos salários a pagar mensalmente era de cerca de Euros 400,000,00!
Os meus accionistas, tinham traçado um cenário totalmente viciado e não me passaram as informações relevantes, pois escamoteavam-na dos bancos e dos credores e pensavam que ao me ocultarem no início do meu mandato a realidade, poderiam assim continuar a controlar a empresa.
Pedi para falar com o meu antecessor, Albino Moutinho, mas como foi corrido pelos accionistas, recusou-se terminantemente. Requisitei o Livro de Actas da Administração e disseram-me que tinha desaparecido.
Convidei um amigo íntimo, competente e de toda a confiança para o Conselho de Administração para ocupar o pelouro financeiro e um Advogado, também impecável e meu amigo de longa data, para Secretário-Geral.
Começava bem, com tudo minado! E isto era só o princípio, pois as peripécias foram de alto coturno, se o leitor tiver a paciência de me continuar a ler.
(continua)