domingo, 5 de fevereiro de 2012

O Zé do Pé (Crónicas de S.Paulo II )


Os Chineses em geral têm uma verdadeira veneração pelo poder. Quem está no poleiro, seja bom ou mau, merece o respeito cego de empresários e do próprio povo.

Há uma incoerência grande entre a tradicional indiferença e frieza da personalidade dos chineses e esta subserviência saloia e disparatada.

Por isso, muitos ocidentais tentam impressionar os seus potenciais alvos chineses, com apresentações a presumíveis ou fictícios agentes do poder.

Como na maior parte dos casos tudo se passa através de intérpretes/tradutores, desde logo se imagina o nível de fraude e de abusos a que estas situações se prestam.

O inolvidável Nacib da saudosa telenovela “Gabriela”, que mais não era do que um 3º secretário, personifica tantas vezes a mistificação a que se prestam personagens medíocres a troco de algum cobre!

É aqui que entra o nosso Zé do Pé, cujo nome verdadeiro era o de José Paulo Freire.

Tinha uns estudos vagos e uma apresentação sofrível e já adiantado na vida, sobrevivia intermediando alguns parcos negócios que lhe davam para viver.

Walter Moreira Sales foi um empresário brasileiro, banqueiro, Embaixador e Advogado e fundador do Unibanco.

Conhecido pela discrição, educação rebuscada, bom humor e charme, o Embaixador tinha muitos amigos famosos, e morreu aos 88 anos em 2001, em Petrópolis, no Rio.

Um dia, num restaurante famoso, estava numa mesa Walter Moreira Sales almoçando com gente ilustre e noutra ponta o nosso Zé do Pé com um grupo de empresários mineiros a quem pretendia vender uma fazenda.

Não estava a conseguir os seus intentos, pois os potenciais compradores estavam desconfiados.

Num gesto teatral, levantou-se e avançou resoluto para a mesa de Walter Moreira Sales. Não se conheciam mas o nosso homem, sem a menor hesitação, numa voz muito formal e humilde pediu desculpa de o incomodar e disse-lhe da admiração que sentia por ele, sendo tal que não tinha resistido a vir cumprimentá-lo.

O Embaixador, homem cortês e amável, agradeceu e perguntou-lhe o que fazia na vida, tendo o Zé do Pé respondido que de manhã se levantava pelas 11h, arranjava-se, tomava o pequeno-almoço, saía, dava umas voltas, bebia uns cafés e uns copos em várias tascas e bares com amigos que ia encontrando e avançava para o almoço.

E á tarde? – perguntou com curiosidade, Moreira Sales.

- Saiba, V.Exª que á tarde o ritmo desacelera muito! – respondeu José Paulo Freire, seguro de si.

E acrescentou:

- Se o Sr. Embaixador me permite que ouse, ficava-lhe muito grato se me fizesse um grande favor. Estou com dificuldades em convencer uns empresários mineiros a transaccionarem uma fazenda que eu intermedeio e cujo produto da venda muito me convinha. Se à saída, o Sr. Embaixador, de longe, me acenasse e dissesse – Adeus, Zé! – seria de uma grande ajuda para a conclusão do negócio, estou certo!

Walter Moreira Sales, respondeu-lhe com bonomia e disse-lhe que podia contar com o favor que lhe pedia, pois o faria com o maior gosto.

Quando o nosso homem regressou à mesa, os mineiros mudaram de atitude e passaram a ouvi-lo com mais atenção e perguntaram-lhe o que tinha estado tanto tempo a falar com um personagem tão importante como o Embaixador Sales.

Respondeu-lhes que tinha estado a fechar uma operação difícil que requereu uma certa influência da sua parte, pois Sales estava renitente.

Ao sair, Walter Moreira Sales, lembrou-se do pedido e resolveu melhorá-lo, avançando para o Zé do Pé e pondo-lhe as mãos nos ombros. Disse-lhe se assim estava bem e se queria mais alguma coisa ao que ele respondeu com um ar enfadado e sacudido:

- Por favor Sales, desande e não me encha mais o saco, pois já falámos tudo o que tínhamos que falar!

Sabe-se que o outro, por ser inteligente e bondoso, saiu divertido do restaurante!

Estou a precisar de um Zé do Pé, URGENTE…please!

2 comentários:

  1. E o amigo Vicente, precisa de um "Zé do Pé" para o ajudar onde ? No Brasil ou na China ?

    Já agora ... o Nacib da Gabriela, era o dono do bar Vesuvio !

    Abraços e cumprimentos ao seu amigo Manel.

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  2. Nesse caso, aqui no Brasil aonde estou de momento. Será que o seu nome e Zé e tem pé? Ahahah

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