domingo, 5 de fevereiro de 2012

A Alegria da Macacada (Crónicas de S.Paulo III)


Neste Domingo com um tempo lindo e um sol bem quente, fiquei uma boa parte da manhã lendo a imprensa local e as revistas que ontem tinha comprado, a VEJA e o ISTO É DINHEIRO com uma entrevista do Ministro da Fazenda, Guido Mântega, sobre como quer blindar a economia brasileira para acelerar os investimentos no País e garantir um crescimento de 4,5% do PIB neste ano, contra ventos e marés internacionais. Também fiz o download do EXPRESSO no iPad.

Não resisto porém a transcrever parte de um artigo que li no Estado de S.Paulo de hoje, Domingo. Recebo este jornal pendurado na porta do meu quarto a cada manhã, o que me permite estar actualizado localmente.

O seu autor, chama-se Humberto Werneck e foi o causador de umas saudáveis gargalhadas durante uns bons minutos. Espero que tenham o mesmo fair-play e que rejubilem com esta humanidade que, no meio de crises incríveis, ainda tem quem nos possa fazer rir.

O artigo chama-se : “ A Alegria da Macacada”!!

…Já falei do Jean-Luc Hennig, o intelectual francês que teve a pachorra de sentar-se para escrever exactamente a respeito daquela parte da sua anatomia que acabara de depositar sobre a cadeira junto da sua mesa de trabalho.

Embora o Jean-Luc seja professor de linguística, notabilizou-se mais por suas pesquisas de vanguarda, ou melhor, de retaguarda, tanto quanto a sua obra mais notória, publicada em Paris em 1995, segue sendo a ”Breve história das nádegas”.

Mesmo sem saber quanto da sua experiência se deve à teoria , haurida no ambiente monacal das bibliotecas, e quanto à prática, consolidada em talvez deleitosos trabalhos de campo, o Jean-Luc pode ser apresentado como o mais saliente bundólogo de que se tem notícia.

Sapiência essa que se assenta numa constatação óbvia porém genial, a que ele chegou sabe Deus em que circunstâncias: a bunda nem sempre existiu – foi preciso, conta o Jean-Luc, que um nosso ancestral, três ou quatro milhões de anos atrás, se pusesse de pé sobre as patas traseiras e nessa posição perseverasse, para que a parte posterior do seu lombo fosse aos poucos ganhando redondidades que vêm a ser a característica e, porque não dizê-lo, o atrativo-mor do derrière humano, sendo os miolos, esse par de hemisférios que nos distingue das 193 espécies de primatas que macaqueiam sobre a terra.

A iniciativa do revolucionário stand up, informa o Jean-Luc, nós a devemos ao Australophitecus afarensis, hominídeo que então abundava na Etiópia e Tanzânia. Quem sabe a própria Lucy, celebridade póstuma cujo esqueleto arqueólogos exumariam 3,2 milhões de anos mais tarde, em 1974.

Por que a Lucy se pôs de pé, nosso bundólogo não sabe dizer; a julgar, porém, pelo resultado final, não há dúvida de que foi uma grande ideia. Com o devido respeito ao imortal arquitecto e aos poderes da República, o invento bem que mereceria a homenagem de um Niemeyer que plantasse na paisagem, no Planalto ou alhures, não Câmara e Senado, mas dois Senados justapostos!

Não é absurdo concluir, literalmente por outro lado, que foi então que nasceu o apalpão bem como o hoje estigmatizado recurso pedagógico da palmada, vulgo estalada.

Surgiu também, na topografia do corpo humano, uma alternativa para a seringa da medecina.

Para não mencionar, claro, as labaredas que o duplo promontório recheado de glúteos veio atear na imaginação do Homo erectus.

A Lucy, na descrição de Jean-Luc, era uma anti-luxúria! Não media mais de 1,05m, nem o seu peso ia além dos 30 kg. Com tais dimensões, ela seria hoje comparável, na melhor das hipóteses, a um teratológico bonsai. Dificilmente provocaria em nós mais do que repulsa, com os seus braços enormes e suas pernas curtas, o rosto praticamente achatado, o crâneo reduzido e os olhos esbugalhados!

No dizer de um amigo meu, faleciam-lhe nádegas, como hoje as conhecemos!

E nem o seu incipiente bumbum devia ser dos mais convidativos: até que o tosco traseiro do hominídeo viesse a ser mostrado nas maravilhas que vemos saracotear por aí, a natureza demandaria um bom milhão de anos – melhor esperar sentado, terá rosnado algum daqueles Australophitecus afarensis,talvez o marido da Lucy.

É certo, em todo o caso, que entre a desbundada macacada havia quem apreciasse semelhante visual – do contrário, aqui não estaríamos, o Jean-Luc e eu, no atual estágio da evolução da espécie, para lhe contar a história das bundinhas.

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