sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Chamava-se Guang Xi


Ontem fui jantar com um amigo ocidental que vive em Pequim. Andámos um bom bocado a pé até ao restaurante e o malandro fez-me trotar a passadas gigantes, pois o frio apertava. Tem cerca de 2m e farta-se de fazer “jogging” em condições meteorológicas adversas.

Tinha sonhado com um bistrot de comida francesa: os meus adorados caracóis bourguignonnes, uns petits-poussins com recheio de foie-gras du Périgord dentro do sítio certo, um excelente Bordeaux e a terminar um soufflé de chocolate ou ao Grand-Marnier.


Nada disso. Não foi McDonalds ( de que confesso, gosto de ir quando me apetece e me é conveniente) mas foi a um restô sem graça.

Mas graça teve a conversa.

Juntou-se-nos uma chinesa de 23 aninhos, com uns olhos de mel, um sorriso de fazer sucumbir S.Tiago (não faço ideia porque me lembrei deste Santo) a cometer as mais torpes e agradáveis tentações que à carne são permitidas. A voz era doce e pausada e o inglês macarrónico, mas divertido.

O bicho, ou seja, o meu amigo, tem mais do dobro da idade dela, a qual me explicou ser guia de excursões à Grande Muralha da China. Estive quase para lhe dizer que era o meu sonho de sempre ir calcorrear com ela quilómetros e quilómetros de pedra inóspita ao som dos pensamentos de Confúcio ! Mas lembrei-me daquela musiquinha do Roberto Carlos que tem a ver com roubar a namoradinha do amigo meu…

Ela esteve connosco até ao meio do jantar e foi-se embora para casa…diga-se dos pais, aonde mora. Fazia-se tarde, sobretudo numa noite de -12º de frio !

Guang Xi, foi contratada pelo meu amigo inglês de uma forma tão romântica quanto um olhar pode ser relevante para um encontro amoroso.

Estendeu-lhe uma pequena brochura com os tours que organizava quando ele se cruzou com ela na Praça Tienamen. Recusou e seguiu e passados uns metros, reflectiu e olhou para trás e ela lá estava a olhar para ele !

Explicou-lhe que queria alguém que lhe fizesse companhia em Pequim, que lhe mostrasse coisas que os estrangeiros nunca vêem, não conhecem e nem entendem por não falarem mandarim.

Começou assim e ela tem sido de uma inexcedível competência e sagacidade.

Devo acrescentar que o meu amigo é casado no Reino de Sua Graciosa Majestade, mas que não deixando de gostar da legítima e de rebentos, encontrou em Pequim um aconchego de que nos falava o Eça !

Acho que só os homens podem perceber estes leitos repartidos e eu limito-me a relatar uma ínfima parte do que foi a minha interessantíssima conversa, sem fazer juízos nem emitir opiniões.

Os detalhes não foram nem sórdidos nem sexuais, era o que faltava pois ambos somos oficiais e cavalheiros, mas no longínquo Pequim com temperaturas gélidas os nossos corações estavam aquecidos por simples e pueris sentimentos, sobretudo por um bom fogo que crepitava numa lareira acolhedora !

Boa noite, pois vou dormir confortado com pensamentos elevados e um astral alto. Amanhã tenho outros assuntos igualmente relevantes com que ocupar a mente e a vontade, mas mais prosaicos.

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