quarta-feira, 20 de abril de 2011
Que amanhã, portanto, demore muito para ser o nosso dia
Morre lentamente quem não troca de ideias, não troca de discurso, evita as próprias contradições.
Morre lentamente quem se torna escravo da rotina, repetindo todos os dias o mesmo trajecto e as mesmas compras no supermercado. Quem não troca de marca, não arrisca vestir-se com uma cor nova, não fala com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu companheiro diário. Muitos não podem comprar um livro ou um bilhete de cinema, mas muitos podem, e ainda assim alienam-se diante de um tubo de imagens que traz informação e entretenimento, mas que não deveria, mesmo com apenas 14 polegadas, ocupar tanto espaço numa vida.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto no branco e os pontos nos “is” a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que causam brilho nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.
Morre lentamente quem não muda quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não acha graça a si mesmo.
Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio. Pode até ser uma depressão, que é uma doença séria e que requer ajuda profissional. Então morre a cada dia quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem não trabalha e quem não estuda, e na maioria das vezes isso não é opção e, sim, destino.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projecto antes de iniciá-lo, não indagando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe. Morre muita gente lentamente, e esta é a morte mais ingrata e traiçoeira, pois quando ela se aproxima de verdade, aí já estamos muito destreinados para percorrer o pouco tempo restante.
Que amanhã, portanto, demore muito para ser o nosso dia. Já que não podemos evitar um final repentino, que ao menos evitemos a morte em suaves prestações, lembrando sempre que estar vivo exige um esforço bem maior do que simplesmente respirar.
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Sobretudo morre lentamente quem não gosta de si próprio. Quem tem medo das opiniões dos outros. Quem não ousa. Quem não sonha, quem não imagina e quem tem medo de se magoar.
ResponderEliminarmas apetece às vezes descansar...deste ritmo avassalador da luta diária para ter a cabeça bem erguida e olhar os outros de frente!
ResponderEliminarpartir, mas também a solidão pode ser uma morte.
O meu primo Luis Bernardo tem cá uma sorte, já lá está:-)