Apeteceu-me hoje falar sobre o tema acima, que deu o título a este texto.
Esta é a parede de fundo do meu actual escritório, com o retrato do meu Avô paterno. Também tenho um quadro do meu Avô materno. Adorava os dois, porque gostavam dos netos de uma forma cúmplice e amiga. Eram generosos, sem ser para nos "comprar", adivinhavam muitas vezes aquilo que nos apetecia sem exagerar, iam conosco ( somos sete irmãos e irmãs, no total) a museus, ao Jardim Zoológico e era uma visita completa e em cada jaula ou lago ou terrenos sólidos, havia sempre uma história a propósito que nos encantava e nos ficava ficar em silêncio até ao fim, e depois vinham perguntas sem cessar. Era mais o meu Avô materno, que umas vezes inventava, e outras eram episódios verdadeiros.
Até na secção dos pássaros, ficávamos de boca aberta pela descrição que nos chamava a atenção para cada animal, as cores, os tamanhos, o que faziam, como se alimentavam, etc
O que mais gostávamos eram os elefantes, os jacarés, os hipopótamos, os "primos" ( os macacos), os leões e tigres. Há em cima, uma fotografia dos meus Trisavós, na Ìndia, num elefante a caçar tigres e leopardos. O PAN, nunca me deixará ser militante...ahahaahahh
Mas quando eu, o mais velho, me punha a conversar com ambos, claro em cada uma das suas casas, aonde íamos muitas vezes e com enorme prazer, pois comía-se muito bem e as Avós eram também amorosas e gostavam muito de nós.
Já estão a ver como, os nossos Pais foram um casal divertido, com muita qualidade e inteligentes e se completavam, tinham muitos amigos e jogavam desportos (ténis) e o meu Pai para além de voleyball e futebol, remava, etc....isto antes de nós nascermos, claro...
Era na zona do Estoril e Cascais e nas praias respectivas, que havia grupos de amigos deles, e que não paravam um minuto.
Nós Filhos, somos o resíduo dessa felicidade permanente, óbviamente que a Mãe era quem mandava , mas com amor e respeito ao Pai, que tinha assuntos da sua própria esfera e a Mãe nem se metia nem o contrariava.
Por isso, mesmo com momentos das nossas vidas que foram e são difícéis, mantemos uma paz, uma tranquilidade e estabillidade que nos faz aceitar as vicissitudes, com essa herança dos nossos antecessores. É como se se pudesse dizer que à superfície somos iguais a toda a gente, com tristezas, doenças, sofrimento mas no nosso interior mantemos um equilíbrio e felicidade de cujas forças vamos buscar a várias gerações. Não como pessoas especiais e diferentes de muitos outros, mas no nosso caso, tivémos a sorte de nascer nesta Família.
Voltando a mim e ser Avô, de oito netos que adoro bem como os meus irmãos e irmãs que também têm muitos filhos, sinto e transmito uma dualidade em esperar que os meus netos saibam o limite da boa-educação e respeito ( são quase todos muito novos) e já são impecáveis, mas ao mesmo tempo sintam uma cumplicidade e afecto em que quando já têm uma idade mais adulta ( o meu herdeiro, é o mais velho e fez 12 anos) as nossas conversas são com o respeito da opinião de cada um e nos casos dos Avôs, a experiência da vida presume-se, mas nada há como ouvir dos netos os sinais bem claros, de uma nova geração com hábitos totalmente diferentes e tentar fazer introduzir nas cabeças deles uma parte agradável do que foi a nossa infância, com a idade deles, e perceber também o que será o futuro.
Tudo isto, com uma dedicação e amor, como aconteceu quando os meus Avôs morreram. Este do retrato, teve um AVC e eu fui chamado já homem, ao mesmo tempo que o meu Pai, médico. Cheguei primeiro, com o coração apertado e chorando no caminho, com a ideia de o perder.
Ainda parecia que ouvia na cama deitado em casa, o que eu lhe dizia, pois fazia uns sons, e eu dizia em voz alta : -Avô, não morra, não nos deixe, que nós o adoramos.....( ao escrever isto correm-me as lágrimas pela cara).
E muito tenho para falar com os meus netos, mas nunca se sabe quanto tempo, cá ficarei na terra.
Tenho um Arquivo de Família muito grande, que, claro, deixarei, mas hoje em dia vendem-se os livros (tenho 4.000 em minha casa e muitos papéis soltos) ao kg, e espero que vários dos meus netos e netas tenham alguma curiosidade de ver para trás o que contribuiu para a felicidade, que nesta geração ainda vive e permanece, entre nós irmãos, que nos ajudamos e amamos uns aos outros.
Tenho a certeza que outros meus Amigos/as têm vidas também com passados exemplares e interessantes e por isso este texto serve como um incentivo para transmitirem aos seus netos.