Hoje a falta de sono deu-me para escrever sobre este texto
da Primeira Epístola do apóstolo São
Paulo aos Coríntios:
A caridade é paciente, a caridade é benigna;
não é inconveniente, não procura o próprio interesse;
não se irrita, não guarda ressentimento;
não se alegra com a injustiça, mas alegra-se com a verdade;
tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor é paciente: tantas vezes a falta de paciência para a
família, pais, sogros, irmãos, filhos, cunhados, amigos, empregados, patrões - no fundo para
aqueles a quem seria mais fácil amar ou estimar por estarem mais perto, por ser
mais cómodo e directo mas dando menos nas vistas. São os amigos importantes, os
de fóra que trazem prestígio, dinheiro e vã exteriorização da vaidade que
merecem curvaturas de espinha, lisonjas, louvaminhices. Falta de paciência para
a idade, para a doença, às vezes até crueldade, tom áspero. E então para com os
estúpidos ou menos cultos, para os pobres, para os inferiores toda uma
infinidade de razões para fugirmos ou darmos o mínimo do nosso tempo, fazer-nos
ausentes.
O amor é benigno : é este calor interior que se sente quando se
faz o bem, a noção de praticar a bondade, de nos sentirmos confortados em ir ao
encontro dos outros sem intuitos interesseiros e sabermos que pudèmos contribuir
para lhes minorar o sofrimento ou dar alegrias, agir sem olhar a quem. Não
significa piedade no sentido negativo do termo, mas compaixão amorosa, e
solidariedade, bonomia e serenidade.
O amor não é invejoso : alegra-se com as vitórias dos outros, encoraja
e aconselha para que obtenham o sucesso. Não ri só nos cantos mas abre a boca
escancarada de satisfação pelo bem que acontece aos outros, promove até o êxito
e rejubila e partilha com sinceridade a felicidade que sentem e prega a
concórdia e evita a intriga, como não pratica a vingança.
O amor não é altivo nem orgulhoso: actua com modéstia, cultiva o dom da
simplicidade, não se guinda aos píncaros da superioridade, não se vangloria nem
humilha os mais fracos, reconhece os defeitos e com doçura faz a correcção
fraterna e aceita que lha façam.
O amor não é inconveniente: é prudente nos juízos, não julga os outros com
maldade ou vingança, estuda e analisa as causas da prática do mal, é atento,
compassivo e guarda o silêncio quando seja mais aconselhável do que falar, não
interfere desnecessariamente, não é maledicente nem intriguista e cultiva a paz
entre as pessoas.
O amor não procura o próprio interesse: é generoso no dar, não é egoísta e reparte com
os mais necessitados, os doentes, os presos, entrega-se e esquece-se de si mesmo,
utiliza os bens da natureza ou os frutos do seu trabalho com prudência e dignidade
sem esbanjamentos e exerce a simplicidade no comportamento em sociedade.
O amor não se irrita e não guarda ressentimento: é amoroso, compreensivo e aceita com bondade e
paciência os comportamentos dos outros, sabe perdoar e esquecer e vai de braços
abertos e coração sincero ao encontro do prevaricador. É verdadeiro, sincero e
magnânimo no entendimento da culpa dos outros e mostra-se reconhecido a quem
lhe perdoa.
O amor não se alegra com a injustiça: protesta e indigna-se com a perseguição, com a
deslealdade, com o abuso e com a violência e luta ao lado dos mais
desfavorecidos e desprotegidos e contra aqueles que violam a liberdade.
O amor alegra-se com a verdade: preza a pureza da voz do justo e do arrependido,
opõe-se à mentira e sofre com o fingimento, com o falso testemunho, com a
acusação vil e inverdadeira, a calúnia, o rumor, o boato, a intriga e a prática
do vício da opressão como justificação do uso desmesurado do poder.
O amor tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo
suporta : é a panaceia para
todos os males, é o consolo dos aflitos, o apoio dos necessitados da cura das
dores da alma, do corpo ou do espírito. É a solução para a paz, para a
concórdia, para o bem viver. É o ingrediente inteligente e único para a obtenção
da felicidade, seja ela qual for.
Este amor, nunca acaba.