O PENINHA REGRESSOU DOS AÇORES DE PAPINHO CHEIO
Nada do que a Adélinha e o Peninha levaram como trajes para os Açores foi usado. Foram recebidos por um primo do Peninha, um tal de Gonçalo Falé de Bittancourt, homem apalaçado, de posses e vivendo numa mansão na Ribeira Seca.
Imensos móveis tipo séc ( mas dos verdadeiros), retratos de antepassados pendurados nas paredes de 3 salões, elas de barbinha fina e um buço abigodado, eles loiros de olhos azuis com um ar efeminado, mas o primo disse que era da raça de onde provinham quando aportaram ao Arquipélago: as ilhas Faroé.
Adélinha não parava de perguntar porque não tinham televisão, não havia rendinhas em cima das cómodas nem bonecas vestidas de trajes brilhantes em prateleiras, os pratos não eram dos cafés Delta e os copos da Coca Cola. Tudo em cristal da Boémia e os vinhos que o primo servia das caves de Vizela no Continente. O Peninha que tinha mais sensibilidade para os brasões, assegurou à Adélinha que o vinho era do Visconde de Vizela (com uma cabrinha desenhada), um título muito antigo talvez mesmo antes dos Visigodos!
No fim do jantar como não havia a “pantalla” nem telenovelas para ver, o primo Bittancourt mandava vir um rancho de Ribeira Seca para cantar, mas tanto Adélinha como o Peninha, adormeciam rapidamente, pois não percebiam peva do que estavam a ouvir. Saíam assim umas notas em forma de uivos de lobos…
Quando a troupe partia lá acordavam os dois estremunhados e o primo começava a contar a história da família.
Veio no barco uma Ursulina, mulher de má-vida que como rameira que era a todos servia e quando desembarcou esgotada da viagem…logo ali pariu uns pares de gémeos que foram os primeiros habitantes das ilhas, com corvos que já lá existiam desde a criação do mundo.
Uma das pequenas que nasceu, era esguia e magra e para crescer foi mandada para uma ilha mais amena e central a que deram o nome de Ponta Delgada, pois a menina que era delgadita, passava-lhe os dias numa ponta da ilha a cismar.
À Ursulina enfiaram-na numa aldeia viçosa para recuperar mas já sendo entradita de idade e depois de tanto parto e ante-parto na viagem de barco, secou. Chamaram por isso à povoação aonde ficou de Ribeira Seca.
Peninha e a Adélinha sentiram-se orgulhosos e perguntaram então se não podiam usar no dedo mindinho que adoravam espetar quando bebiam chá, um cachucho igual ao do primo. Bittancourt aí achou que era topete, mas não querendo desfeiteá-los, prometeu-lhes no dia seguinte levá-los a uma loja de anéis.
Foram deitar-se muito animados os dois e dormiram agarrados um ao outro felizes e contentes.
De manhã a mulher de Gonçalo Bittancourt de uma família local de origem modesta, de apelido de Saldanha e Bolama e Victorino, levou-lhes ao quarto uns trajes típicos e lá saíram de carro em direcção a Ponta Delgada.
O fito do primo era levá-los à loja do chinês e lá sugerir uns anéis vistosos para os dois. Eles não tinham percebido o que estava gravado no anel do Gonçalo assim que lá chegados, o chinês cheio de mesuras pôs-se à disposição do fidalgo.
Para a Adélinha, Bittancourt escolheu um camafeu e quando ela lhe perguntou quem era a mulher representada no anel, a resposta foi de que era uma antepassada romana. Adélinha encheu o peito de orgulho.
Para o Peninha, tinham acabado de chegar uns anéis com pedras brilhantes falsas de cores variadas e com gravações dos signos chineses. Bittancourt disse-lhe que escolhesse o anel com o símbolo do macaco, pois a família descendia de um colateral de um antropopitecos troglodita, que dera origem à nobre estirpe.
Claro está que no centro da cidade eram o alvo da chacota de todos, micaelenses e estrangeiros, pelo uso dos trajes inapropriados ao calor que fazia.
Os dias foram passando. Iam à praia e Adélinha trouxera um bikini de tamanho inferior ao dos seus seios gigantescos e a cada momento, quando eles saíam para fora do exíguo tecido dava uns repelões para ajeitar a carniça. Peninha trouxera uma tanga à Tarzan e uma parra à Adão, de forma que se via bem torneado o sexo, coisa que na praia era muito comentado pelas donzelas magalonas, sem ele se aperceber.
O primo modificara-os quase totalmente:
- não arrotavam alarvemente e quando saía um som mais ousado, punham a mão anelada em frente da boca e diziam : - com licença ou perdão!
- no fim do almoço armavam uma barraquinha com a mão anelada em frente da boca e escarafunchavam com palitos entre os dentes o resto da comida;
- o primo dissera-lhes que era deselegante comer com a boca aberta e falar ao mesmo tempo, de modo que eram parcos nas conversas, mas no fim não dispensavam uns estalidos da língua a mostrarem o apreço pela comida chupando e fazendo barulho entre os dentes.
Enfim chegou o dia da despedida e vieram os dois gordos e anafados, rosados de carnes e contentes como uns cucos.
Mal chegaram, descansaram, dormiram e no dia seguinte partiram de carro em direcção a Paços de Ferreira, a capital do móvel, para renovarem a mobília toda.
Isto era apenas o começo. Deram os tarecos velhos para a paróquia e já falavam em comprar uma bibenda em Massamá, passe a publicidade.
Foram, pode dizer-se, umas férias chics a valer.
Nada do que a Adélinha e o Peninha levaram como trajes para os Açores foi usado. Foram recebidos por um primo do Peninha, um tal de Gonçalo Falé de Bittancourt, homem apalaçado, de posses e vivendo numa mansão na Ribeira Seca.
Imensos móveis tipo séc ( mas dos verdadeiros), retratos de antepassados pendurados nas paredes de 3 salões, elas de barbinha fina e um buço abigodado, eles loiros de olhos azuis com um ar efeminado, mas o primo disse que era da raça de onde provinham quando aportaram ao Arquipélago: as ilhas Faroé.
Adélinha não parava de perguntar porque não tinham televisão, não havia rendinhas em cima das cómodas nem bonecas vestidas de trajes brilhantes em prateleiras, os pratos não eram dos cafés Delta e os copos da Coca Cola. Tudo em cristal da Boémia e os vinhos que o primo servia das caves de Vizela no Continente. O Peninha que tinha mais sensibilidade para os brasões, assegurou à Adélinha que o vinho era do Visconde de Vizela (com uma cabrinha desenhada), um título muito antigo talvez mesmo antes dos Visigodos!
No fim do jantar como não havia a “pantalla” nem telenovelas para ver, o primo Bittancourt mandava vir um rancho de Ribeira Seca para cantar, mas tanto Adélinha como o Peninha, adormeciam rapidamente, pois não percebiam peva do que estavam a ouvir. Saíam assim umas notas em forma de uivos de lobos…
Quando a troupe partia lá acordavam os dois estremunhados e o primo começava a contar a história da família.
Veio no barco uma Ursulina, mulher de má-vida que como rameira que era a todos servia e quando desembarcou esgotada da viagem…logo ali pariu uns pares de gémeos que foram os primeiros habitantes das ilhas, com corvos que já lá existiam desde a criação do mundo.
Uma das pequenas que nasceu, era esguia e magra e para crescer foi mandada para uma ilha mais amena e central a que deram o nome de Ponta Delgada, pois a menina que era delgadita, passava-lhe os dias numa ponta da ilha a cismar.
À Ursulina enfiaram-na numa aldeia viçosa para recuperar mas já sendo entradita de idade e depois de tanto parto e ante-parto na viagem de barco, secou. Chamaram por isso à povoação aonde ficou de Ribeira Seca.
Peninha e a Adélinha sentiram-se orgulhosos e perguntaram então se não podiam usar no dedo mindinho que adoravam espetar quando bebiam chá, um cachucho igual ao do primo. Bittancourt aí achou que era topete, mas não querendo desfeiteá-los, prometeu-lhes no dia seguinte levá-los a uma loja de anéis.
Foram deitar-se muito animados os dois e dormiram agarrados um ao outro felizes e contentes.
De manhã a mulher de Gonçalo Bittancourt de uma família local de origem modesta, de apelido de Saldanha e Bolama e Victorino, levou-lhes ao quarto uns trajes típicos e lá saíram de carro em direcção a Ponta Delgada.
O fito do primo era levá-los à loja do chinês e lá sugerir uns anéis vistosos para os dois. Eles não tinham percebido o que estava gravado no anel do Gonçalo assim que lá chegados, o chinês cheio de mesuras pôs-se à disposição do fidalgo.
Para a Adélinha, Bittancourt escolheu um camafeu e quando ela lhe perguntou quem era a mulher representada no anel, a resposta foi de que era uma antepassada romana. Adélinha encheu o peito de orgulho.
Para o Peninha, tinham acabado de chegar uns anéis com pedras brilhantes falsas de cores variadas e com gravações dos signos chineses. Bittancourt disse-lhe que escolhesse o anel com o símbolo do macaco, pois a família descendia de um colateral de um antropopitecos troglodita, que dera origem à nobre estirpe.
Claro está que no centro da cidade eram o alvo da chacota de todos, micaelenses e estrangeiros, pelo uso dos trajes inapropriados ao calor que fazia.
Os dias foram passando. Iam à praia e Adélinha trouxera um bikini de tamanho inferior ao dos seus seios gigantescos e a cada momento, quando eles saíam para fora do exíguo tecido dava uns repelões para ajeitar a carniça. Peninha trouxera uma tanga à Tarzan e uma parra à Adão, de forma que se via bem torneado o sexo, coisa que na praia era muito comentado pelas donzelas magalonas, sem ele se aperceber.
O primo modificara-os quase totalmente:
- não arrotavam alarvemente e quando saía um som mais ousado, punham a mão anelada em frente da boca e diziam : - com licença ou perdão!
- no fim do almoço armavam uma barraquinha com a mão anelada em frente da boca e escarafunchavam com palitos entre os dentes o resto da comida;
- o primo dissera-lhes que era deselegante comer com a boca aberta e falar ao mesmo tempo, de modo que eram parcos nas conversas, mas no fim não dispensavam uns estalidos da língua a mostrarem o apreço pela comida chupando e fazendo barulho entre os dentes.
Enfim chegou o dia da despedida e vieram os dois gordos e anafados, rosados de carnes e contentes como uns cucos.
Mal chegaram, descansaram, dormiram e no dia seguinte partiram de carro em direcção a Paços de Ferreira, a capital do móvel, para renovarem a mobília toda.
Isto era apenas o começo. Deram os tarecos velhos para a paróquia e já falavam em comprar uma bibenda em Massamá, passe a publicidade.
Foram, pode dizer-se, umas férias chics a valer.