O spleen e demais coisas
Era uma vez um gajo chateado. A vida não corria nem bem nem mal e os
anos iam passando e cada vez mais, Gonçalo sentia um certo spleen de
tudo e de todos.
Consultara bruxas, adivinhos e tinha até ido à gruta de Melvar, aonde
se dizia que de tantos em tantos anos se abria uma janela para o
paraíso. Tinha ido na esperança de saber um pouco mais se valia a pena
morrer ou tornar-se imortal.
Por azar nesse dia nada se passou a não ser uma incomensurável teia
de aranhiços e poeira, uma escarpa danada a ter que subir e descer e um
nevoeiro que o tornara ainda mais neura.
Gonçalo, sempre se sentira um deus do Olimpo disfarçado na terra como emissário de Zeus.
Mas tudo tem limites e os humanos são muito penosos de conviver e
chatos e sempre com manias e histórias intermináveis. Não têm a
capacidade de sintetizar e de sobretudo de se manterem em silêncio, pelo
menos durante umas horas do dia.
Por isso Gonçalo, deu um bocejo muito grande e ao rever o dia
anterior e pese embora a sua esmerada educação, não pode conter o riso
ao pensar na surpresa dos milhares de assistentes e inclusive de S.Exa o
Presidente da República, quando num concerto de benemerência, surgiu no
palco um rapazinho aristocrata e sem mais afirmou em alta e boa voz:
- vou dar um peido, traque ou pum ou vento conforme a sensibilidade possidónia dos terráqueos a ver o que acontece!
E Gonçalo espreguiçando-se sentiu a flatulência sobrevir e pensou em voz alta:
- Nós, os Nobres, somos assim. Tudo nos é permitido.
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