O DIA DO PAI
É muito celebrado e desde pequenos os filhos trazem das escolas, declarações de amor e elogios ao melhor Pai do mundo e quejandos.
Sempre achei ternurenta a ideia, mas à medida que os filhos vão crescendo vão as manifestações sendo mais personalizadas, mais verdadeiras, salientando algum aspecto que caracterize o Pai para cada um dos filhos, tornando-se assim mais saboroso.
Com a idade vão-se os filhos tornando Pais e o ciclo repete-se, mas enquanto os Pais mais velhos forem existindo é sempre para eles um consolo, serem lembrados com um pequeno gesto simbólico, um telefonema, uma visita, um pequeno presente.
Os tempos vão mudando, as crianças tornaram-se em adultos e o papel de um Pai, não é fácil de recordar. Muitas vezes ficam na memória momentos de confronto, de dureza, de culpa, de sofrimento e passa-se por cima daquilo a que eu chamo “untold stories” de amor, abnegação e entrega, sacrifício, presença discreta. É natural que sendo os filhos de tenra idade e depois adolescentes não se apercebam em profundidade de tudo quanto lhes é proporcionado de afecto, de interesse e de intervenção. Só quando se tornam Pais, acabam por compreender as tais “untold stories”: noites em branco, preocupações de doenças próprias das diversas idades, resolução de problemas educacionais, arbitragem com as Mães que têm sempre um desempenho preponderante, desde a gravidez ao dar à luz e aos primeiros tempos da infância, no que se refere à proximidade emocional, de desvelo e de presença diária quase omnipresente, e claro aos próprios feitios tantas vezes possessivos em relação à exclusividade da atenção, num misto de ciúmes e de menos agrado de que os filhos partilhem o seu amor com outrem.
Claro que há imensas excepções e desde sempre e há Mães e Pais que fazem uma partilha equitativa do seu múnus parental. Acresce que há tantos Pais melhores do que Mães e vice-versa.
Mas para mim o mais importante é que no dia do Pai a cada ano que vai passando na vida de uma Família, haja mais atenção dos filhos não tanto à comemoração comercial da data, mas um enfoque no que um Pai precisa de um filho, da compreensão, do perdão, da paciência, da aceitação da passagem dos anos e das consequências normais de menos frescura e modernidade, de fraqueza física e tantos outros aspectos que não sendo obrigatoriamente negativos, são um momento especial entre Pais e Filhos em que desta vez são os Pais o alvo das atenções e do afecto.
É que quando se é Pai e se gosta dos filhos, de cada um em especial quando não são únicos, há uma irrenunciável atitude de amor, uma sensação interior de alegria, de preocupação, de ternura e de ligação, malgré tout, ou seja, que ultrapassa a dor de um passado menos feliz, e neste caso, por culpa eventual dos Pais.
Há uma ansiedade de paz e de bondade e de reciprocidade no amor que tornam os Pais alvoroçados quando os filhos isto percebem.
Sabe-se das Escrituras o papel discreto e sofrido em silêncio de S.José, competindo com a Mãe de Jesus em todo o seu esplendor e importância, na história da primeira Família.
Por isto tudo, os Pais fazem parte de um Clube especial que tolamente não está registado em nenhuma Conservatória do mundo, quando haveria tanta coisa a dizerem-se uns aos outros e a melhorarem no seu papel de Pais.
Mas nem sempre é preciso escrever os direitos dos Pais, quando os Filhos são tão bons ou melhor dos que os antecederam.
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