sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

ET POURTANT (AO OUVIR CHARLES AZNAVOUR)


ET POURTANT (AO OUVIR CHARLES AZNAVOUR)

Hoje morreu um amigo de infância que não vi durante muitos anos. Fomos amigos de Colégio, crianças despreocupadas, fizemos desporto juntos, jogámos futebol, pingue-pongue, voleibol e andebol, fomos em passeios da turma, rezámos juntos nas aulas e na Capela, rimos, estudámos e não me lembro de nada que nos tivesse dividido.

Sempre sorridente, modesto e humilde, filho do porteiro do Colégio, muito bom aluno e afável, daqueles que às vezes desejamos imitar por uns tempos por ser tranquilo e não ter as excitações das nossas famílias, cheias de programas sociais, viagens ao estrangeiro, vida agitada…agradável de que me não arrependo, que adorei e de que tirei um partidão…mas o Vítor era o exemplo sereno de uma vida feliz. 

Foi brilhante profissional, catedrático, bom marido e bom pai de 3 filhos que conheci ultimamente, seguidores de muito perto do Pai.

Um dia, resolvi saber dele e escarafunchei até o encontrar. Já lá vão uns bons 4 anos e a primeira vez que nos reencontrámos, houve um momento de hesitação mas caímos nos braços um do outro e demos um abraço prolongado. O sorriso era igual e inesquecível, mas tinha mudado muito. Era um Senhor, como aliás sempre o achei quando olhava retrospectivamente para quando éramos já mais velhos no Colégio.

Voltei para casa muito triste depois de me despedir dele no silêncio das minhas lágrimas quando abracei a mulher e os filhos, comovidamente.

Deu-me para ouvir um álbum completo do Charles Aznavour, de quem sempre gostei e que canta músicas melancólicas com letras lindas, por vezes tristes.

E a primeira foi uma muito conhecida “ Et pourtant” cuja tradução não exprime o sentido forte e rico da palavra em francês.

E pensei que um dia em que morresse, mesmo sabendo que a morte há-de vir, et pourtant…

- vou ter saudades de gostar de quem gosto, com intensidade e amor
- vou ter saudades de olhar à volta e ver o azul do céu, o verde dos campos, as cores garridas das flores
- vou ter saudades de estar vivo.

E tanto mais.

Fui sair e apanhar este sol magnífico e generoso e dirigi o carro para o Estoril, Cascais e Guincho aonde vou olhar o mar e passear a pé.

Adeus Vítor e obrigado.

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