Meu Querido Manuel,
Cá recebi a tua carta que chegou bem. Estou numa roda-viva pois há aqui uma
enorme festa organizada pelos teus Pais. Para além da tua família toda até aos
4ºs Avós, dos dois lados, resolveram convidar amigos de toda a vida.
O pretexto, imagina tu, é a Alegria. Até parece que um dos temas da tua
missiva – a Tristeza – para que me pedes conselho, vem a calhar para te falar
do que aqui se celebra. Se me deixas, vou responder-te falando do oposto.
Pois a tua Mãe, com a sua energia habitual, está a preparar tudo para que seja
uma festa em cheio. Sabes como ela aí fazia umas peças de teatro muito
engraçadas em que participavam os filhos e netos e os amigos caturras. Pois aqui,
vai ser sem vocês os filhos e netos, mas com a parentela e os que aí tão bem
alinhavam nas representações e divertimento.
Assim vai haver vários quadros inspirativos:
- é na família que se encontra a ALEGRIA – sabes tão bem como eu que
ninguém é igual e cada um tem os seus feitios e interesses e à medida que se
vai crescendo vai-se adquirindo a sua personalidade.
É no seio da família que
se devem dirimir os diferendos, recuperando as boas memórias e perdoando os
defeitos e atitudes menos bem tomadas. Se não houver uma referência e
necessidade de revisitar o ambiente familiar, nos bons e sobretudo nos maus
momentos, a família dispersa-se, divide-se e tornam-se uns estranhos.
É na
unidade no sofrimento e nas alegrias que aprendem os Pais e os Filhos a serem
melhores, a respeitarem-se, a exprimirem sem vergonha os sentimentos de amor e de
disponibilidade quando são chamados a actuar. E, o que se ganha em partir esses
laços, por muitas razões que possam existir?
O tempo passa a correr, os anos
sobrevêm, as doenças e a dependência chegam, a solidão e a dita tristeza.
Que
bom é um filho ou filha sentir o calor do amor dos Pais, que tantas “untold
stories” têm sobre cada um, de preocupação, de sacrifício, de alegrias, de
orgulho e de entrega a ponto de se ser capaz de dar a vida.
Pois bem no sentido
contrário isso acontece, que bom é os Pais sentirem o retorno desse amor retribuído
em paciência, atenções, respeito, disponibilidade e ternura.
Já vês, este quadro vai ser feito pelos teus Pais, os dois com tão ricas
experiências e tal como os conheço falarão serenamente com verdade, humildade sem
engrandecimento, porque sempre lhes saiu com naturalidade. Tu bem o sabes.
- um segundo quadro em que o tema é a ALEGRIA que se encontra em esquecer-nos
de nós próprios e dar-nos aos outros. A alegria da dedicação, da atenção ao que
esperam de nós, a misericórdia e bondade no trato com todos, o serviço aos
mais desfavorecidos e não só àqueles com faltas materiais: aos solitários, aos idosos, às crianças abandonadas, aos com fome e sede de justiça. Mas para esses, o
exemplo da ALEGRIA é a melhor cura dos males.
Depois um baile formidável das mil e uma noites com uma ceia opípara, com
um menu digno dos maiores gourmets e gourmands. Depois te conto e descrevo ao
pormenor.
Vou tentar estar com o Moisés como me pediste, para o mês que vem, pois ele não é fácil de
encontrar.
Passa a vida a fazer rectificações nas diversas versões dos
mandamentos. Há por aí muita fantasia, plágio e invenções disparatadas. Já
veremos o que ele diz.
Quanto ao UNIVERSO, e a tudo quanto me perguntas, estou proibido de te
descrever mas posso adiantar-te algo que te vai descansar. O caminho até aqui é
bom e prazenteiro e como já te disse antes em outras cartas, goza a vida aí,
porque aqui é diferente.
Por isso, esquece a TRISTEZA e transforma-a em motivos de ALEGRIA. Há
tantas coisas boas e positivas para desfrutar, então porque entristecer-te?
Um afectuoso abraço do teu primo muito amigo
Luís Bernardo
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