sexta-feira, 1 de maio de 2015

Resposta do meu primo Luís Bernardo - ceia sublime


Meu Querido Manuel,

Cá recebi a tua carta que chegou bem. Estou numa roda-viva pois há aqui uma enorme festa organizada pelos teus Pais. Para além da tua família toda até aos 4ºs Avós, dos dois lados, resolveram convidar amigos de toda a vida.

O pretexto, imagina tu, é a Alegria. Até parece que um dos temas da tua missiva – a Tristeza – para que me pedes conselho, vem a calhar para te falar do que aqui se celebra. Se me deixas, vou responder-te falando do oposto.

Pois a tua Mãe, com a sua energia habitual, está a preparar tudo para que seja uma festa em cheio. Sabes como ela aí fazia umas peças de teatro muito engraçadas em que participavam os filhos e netos e os amigos caturras. Pois aqui, vai ser sem vocês os filhos e netos, mas com a parentela e os que aí tão bem alinhavam nas representações e divertimento.

Assim vai haver vários quadros inspirativos:

- é na família que se encontra a ALEGRIA – sabes tão bem como eu que ninguém é igual e cada um tem os seus feitios e interesses e à medida que se vai crescendo vai-se adquirindo a sua personalidade. 

É no seio da família que se devem dirimir os diferendos, recuperando as boas memórias e perdoando os defeitos e atitudes menos bem tomadas. Se não houver uma referência e necessidade de revisitar o ambiente familiar, nos bons e sobretudo nos maus momentos, a família dispersa-se, divide-se e tornam-se uns estranhos. 

É na unidade no sofrimento e nas alegrias que aprendem os Pais e os Filhos a serem melhores, a respeitarem-se, a exprimirem sem vergonha os sentimentos de amor e de disponibilidade quando são chamados a actuar. E, o que se ganha em partir esses laços, por muitas razões que possam existir? 

O tempo passa a correr, os anos sobrevêm, as doenças e a dependência chegam, a solidão e a dita tristeza.

Que bom é um filho ou filha sentir o calor do amor dos Pais, que tantas “untold stories” têm sobre cada um, de preocupação, de sacrifício, de alegrias, de orgulho e de entrega a ponto de se ser capaz de dar a vida. 

Pois bem no sentido contrário isso acontece, que bom é os Pais sentirem o retorno desse amor retribuído em paciência, atenções, respeito, disponibilidade e ternura.

Já vês, este quadro vai ser feito pelos teus Pais, os dois com tão ricas experiências e tal como os conheço falarão serenamente com verdade, humildade sem engrandecimento, porque sempre lhes saiu com naturalidade. Tu bem o sabes.

- um segundo quadro em que o tema é a ALEGRIA que se encontra em esquecer-nos de nós próprios e dar-nos aos outros. A alegria da dedicação, da atenção ao que esperam de nós, a misericórdia e bondade no trato com todos, o serviço aos mais desfavorecidos e não só àqueles com faltas materiais: aos solitários, aos idosos, às crianças abandonadas, aos com fome e sede de justiça. Mas para esses, o exemplo da ALEGRIA é a melhor cura dos males.

Depois um baile formidável das mil e uma noites com uma ceia opípara, com um menu digno dos maiores gourmets e gourmands. Depois te conto e descrevo ao pormenor.

Vou tentar estar com o Moisés como me pediste, para o mês que vem, pois ele não é fácil de encontrar. 

Passa a vida a fazer rectificações nas diversas versões dos mandamentos. Há por aí muita fantasia, plágio e invenções disparatadas. Já veremos o que ele diz.

Quanto ao UNIVERSO, e a tudo quanto me perguntas, estou proibido de te descrever mas posso adiantar-te algo que te vai descansar. O caminho até aqui é bom e prazenteiro e como já te disse antes em outras cartas, goza a vida aí, porque aqui é diferente.

Por isso, esquece a TRISTEZA e transforma-a em motivos de ALEGRIA. Há tantas coisas boas e positivas para desfrutar, então porque entristecer-te?

Um afectuoso abraço do teu primo muito amigo

Luís Bernardo

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