segunda-feira, 11 de maio de 2015

Carta do meu primo Luis Bernardo - Narrativa da festa e jantar



Meu Querido Manuel,

A festa dos teus Pais foi um deslumbramento. Pediram ao "29" que lhes desse uma mão e ficou como sempre muito bem arranjado.

No terraço grande em frente da casa começava uma tenda que se alargava para o jardim imenso. Os canteiros de flores garridas de que o teu Pai tanto gosta e cuida, estavam um esplendor. De lado, por detrás de umas micas generosas deixava-se entrever o arvoredo, todo iluminado.

No fim do jardim numa varanda em pedra bastante larga, podia-se ter uma panorâmica sobre o mundo e como a festa se prolongou até ao amanhecer, os convidados vieram apreciar tanto as vistas da noite como o nascer do Sol.

O terraço tinha sido deixado para palco das representações que se iriam desenrolar e do espectáculo organizado pelos teus Pais.

Pelo parque sobre a relva, espalhavam-se as mesas que estavam lindas. Com centros de mesa com candelabros de prata e velas acesas e o serviço de porcelana armoriada da família, de que tu tens réplica no Alentejo. Os marcadores em vermeille com o mesmo faqueiro e copos de cristal valorizavam a Companhia das Índias que em cada mesa, em pequenas terrinas abertas e sem tampa deixavam sair flores vistosas a dar com as cores da porcelana.

As toalhas em seda beije e com saiote tornavam o arranjo das mesas imponente. As cadeiras eram confortáveis pois o "29" decidiu e muito bem, que os convidados deviam estar cómodos.

Criados fardados de libré, serviam os aperitivos que eram deliciosos: salmão fumado enrolado em cónes crocantes, caviar beluga à colher sobre blinis, uns camarões frescos em pequenas empadinhas de massa folhada, uns croquetes de javali quentes e como bebidas, champagne, vinho da Madeira, jerez, vinho branco gelado Chablis e Carcavelos.

O jantar era muito bom:

- ostras gratinadas com espinafres, acompanhadas por champagne;

- lagostins grelhados com molho de mayonnaise aux fines herbes acompanhado por um Mosel de primeira ordem;

- um sorbet de lima;

- perdiz estufada com cebolinhas e batata palha e acompanhadas por um vinho tinto de Chateau Petrus.

De sobremesa um soufflé Grand-Marnier acompanhado de Licor Beirão, et pour cause…

Um plateau de queijos servido em cada mesa, com Serpa e Azeitão acompanhado por um Porto Barros de 1919.

No final, havia charutos que tinham sido trazidos pelo Conde de Montérrón, ele de origem cubana, e as bebidas do costume desde o Drambuie, Whiskies de malte e sem serem, Cognacs, e Grappas. 

Muitos smokings brancos impecáveis e as senhoras muito bem vestidas, com jóias formidáveis. A parentela esmerou-se.

Lá estavam os Amigos de sempre, os Horta e Costas, os Herédias, os Mónica, os Andersen, os Vasconcellos Abreu, o Pai Motta Veiga, os Marques Guedes, os Rebello de Sousa, os Lagos, os Vasconcellos Guimarães, os Paiva Raposo e como já tinha bebido um bocado, não dei por mais.

Havia uma orquestra impecável e dançou-se bastante. A um dado momento os teus Pais que estavam elegantíssimos, foram para o terraço e a tua Mãe agradeceu muito terem vindo à festa e anunciou que se iria começar com as duas representações referidas num programa que constava no verso de um menu lindo com a descrição dos pratos do jantar, impresso a grená com um diabinho com uma cauda no meio de uma frase que dizia: “who’s the devil, is sitting here?” Por baixo o nome do Convidado. Tudo isto mandado vir de Bond Street do Smythson, que é único.

Tive uma longa conversa com o teu Trisavô, Dom Francisco Bernardo de Noronha e Távora, a propósito de uma demanda sobre umas terras e uns palmares bem como sobre uns palácios e casas em Goa. Acabou por ser o teu Bisavô Souza Andrade que como juiz da Relação de Nova Goa, dirimiu o assunto. Também encontrei a tua Bisavó italiana, com quem falei sobre Génova, cidade de que eu gosto tanto.

(continua)

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