O paciente começou a
debitar diante de Luís o que o tinha feito recorrer a uma consulta. Contava as
amarguras, coisas íntimas, como num desejo de encontrar um
porto de abrigo, uma alma gémea que o consolasse das mazelas que se causara e a
outros.
Fazia-o com valentia, sem
temor porque confiava na confidencialidade das quatro paredes do gabinete.
Luís, talvez sem muita
paciência, ouvia distraído e tomava umas vagas notas.
Quando o paciente acabou,
meio atordoado pelo esforço de fazer vir ao de cima a sua história, ouviu de
Luís uma frase assassina e impiedosa:
- Você é especial!
O paciente surpreendido
com esta afirmação, não fez comentários e cismou dorido, porque raio é que
tinha sido este o único comentário.
Luís ainda fez perguntas, daquelas
que os padres costumam fazer com um ar severo nos confessionários a
adolescentes imberbes que confessam faltas à castidade: quantas vezes, diga lá,
foram muitas? E os meninos córados, respondem que não. Aí começa a mentira,
jurando que nunca mais confessam ao sr.padre pecados desta natureza!
Pois o paciente respondeu
que estava a contar tudo isto para que Luís melhor o conhecesse e pudesse estimar
mais acertadamente a terapia.
No final, Luís
perguntou-lhe:
- Nas funções no Governo,
também foi especial?
O paciente respondeu que
estava ali para falar da vida pessoal e que no Governo desempenhara as suas
funções com garbo, excepto num particular: aldrabara na formação académica e
omitira ao País que tinha feito uma disciplina ao Domingo!
Luís, reconhecendo-o,
levanta-se pressuroso e com um ar humilde e servil, curva-se despedindo-se:
- Oh Senhor
ex-Primeiro-Ministro, olhe que não o reconheci! Desculpará a minha distracção.
O paciente com
benevolência e já com um sorriso, respondeu:
- Ce n’est pas important!
E acrescentou: - Quando
regressei de França, habituei-me a falar francês!
E saiu com um ar
especial.
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