domingo, 1 de maio de 2011

Conto da dona Lili (3) Maria Alberta



Os salões da mansão do rico industrial e bem sucedido imigrante português Celso Pereira estavam cheios, como poucas vezes acontecia, naquela noite memorável. Alguns políticos locais, Coronéis, e variados homens de negócios enchiam as salas da casa grande da xácara.

O encanto da reunião estava, entretanto, na revoada de moças e senhoras que rodopiavam pelas salas, e entre as quais se destacava, pela beleza, pela juventude, pela inocência do olhar e dos modos, Maria Alberta, noiva do Dr. Abelardo Couto e filha do dono da casa.

Na sala ao lado, dançava-se. E, entre os pares, o Dr. Abelardo e a noiva, põem-se os dois a conversar:

— Que mãos tens tu, Maria Alberta! — elogia o noivo, maravilhado, apertando os dedos miúdos, quase infantis, da sua prometida.

— Acha-as pequenas? — pergunta a moça.

— Microscópicas!

— Como?

— Microscópicas! — insiste o Dr.Abelardo.

Intrigada com a palavra, que ouvia pela primeira vez, Maria Alberta pede licença por um instante, entra no salão de chá e, com a sua ingenuidade, pergunta ao amigo do pai, um médico local com fama de muito letrado o Dr. Maraz:

— Doutor, o que significa “microscópico”?

— É uma palavra derivada de “microscópio”, Menina! — explica o ilustre fisiologista.

— E o que é “microscópio”? — insiste Maria Alberta, franzindo a testa morena, que os olhos iluminam.

O Dr. Maraz pensa um momento, e, para não perder tempo, explica:

— É um aparelho que faz as coisas crescerem. Compreende?

A menina sorri, agradecida.

De repente, porém, pisca os olhos, franze mais a testa, e corando diz:

— Ahn!...

Morde o dedinho, meio brejeira, meio envergonhada:

— Desavergonhado! Agora é que percebo porque é que ele diz que eu tenho a mão microscópica ...

E saiu correndo, córada, para beijar o noivo.

(continua)

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