segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
O três olhos
Correu mundo para ver se tinha tratamento!
Uma fortuna gastaram os pais de Leonel para conseguirem mudar o terceiro olho da testa para o lugar próprio, sem qualquer êxito!
Foi começando a crescer e imaginam o incómodo, o pouco higiénico e o pouco prático que era para o pobre do Leonel!
Curiosamente no lugar aonde deveria estar, tinha o Leonel um esconderijo impecável para fazer contrabando. Era uma concavidade marsupial quente e limpa e com espaço para passar pequenos objectos valiosos através da fronteira da Raia, lá para Elvas e Badajoz.
A seguir ao 25 de Abril tudo quanto eram jóias dos capitalistas, conheceram o esconderijo inviolável de Leonel. Foram relógios de ouro de marcas famosas com pedrarias e diamantes envoltas em algodão em rama para não ofender a pele, anéis sumptuosos, gargantilhas, milhares de contos que por ali transitaram para o estrangeiro.
- Olá Leonel, então lá vais mais uma vez aos caracóis ali a Espanha? Deves ter um grande talento para os toscares com tantos olhos - enxovalhavam-no os guardas revolucionários.
- É nojento com aquele terceiro olho no meio da testa, ainda por cima coxeia! – comentavam entre eles.
Leonel, sereno, cumpria este seu destino e pagavam-lhe bem, claro. Pedia uma percentagem do valor. Coxeava um pouco quando tinha muita mercadoria.
Um dia foi aproximado por políticos de esquerda que lhe pediram para passar algo super confidencial até Badajoz, pois alguém viria ao seu encontro. Um dos capitalistas, na prisão e sob tortura, confessara a existência de Leonel e das suas actividades e foi assim que eles o conheceram.
Com a passagem dos anos Leonel envelhecera e agora que estava doente e sem forças não podendo sair de casa, pedira para chamar o Procurador Geral, mandando dizer que era urgente e da maior importância.
- Então o que tem para me contar de tão relevante que me faz vir de Lisboa até aqui? Foi só porque o Presidente do Supremo me pediu para o ouvir! – afirmou o Magistrado, enojado, enfadado e dando a entender que não tinha qualquer interesse na resposta de Leonel.
Leonel contou-lhe a forma como durante anos contrabandeara de tudo um pouco e referiu-lhe que o que lhe tinha sido dado por esquerdistas e que era suposto ter entregue a um emissário,nunca se tinha materializado, pois o dito não tinha jamais aparecido.
Ficara com o pequeno objecto que guardara religiosamente até agora e que continha qualquer coisa que na altura e ao colocá-lo na sua concavidade, lhe parecera ser uma pequena cassete.
O Procurador ficou estarrecido e disse:
- Andámos tanto tempo à procura!
- De quê Sr. Doutor? – perguntou curioso Leonel.
- Ó homem, da cassete com as escutas!
MNA
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