O Peninha foi finalmente vacinado
O Peninha é amigo desde há anos do Regedor da Junta de Freguesia do Senhor Roubado, um homem do mundo, falando vários idiomas, sobretudo com muitos contactos, no mundo do futebol, da indústria das carnes, da pesca à sardinha e da caça aos gambuzinos.
Vive numa casa apalhaçada, um pouco afastada do centro do Senhor Roubado, mas desloca-se de burro ( para dar o exemplo) todas as manhãs para a sede da Junta de Freguesia aonde, no gabinete, muito bem arranjado com um gosto exquisito tem desde quadros e pintores famosos da região, loiça das Caldas, serviços de chá em prata fingida reluzente, uns móveis típicamente chineses que não sendo muito apropriados mandou vir de Macau para dar grandeza ao ambiente e como secretária a Lu Yung,uma rapariga de Xangai, que anteriormente trabalhava num cabaréte, mas que fruto da conversão obtida pelo prior da freguesia, o sr.Padre Asdrúbal, se tornou uma fervorosa crente, ao que parece...
Começam a manhã com uma pequena oração taoísta e um credo e depois avançam para o trabalho. Despachos e mais depachos que o presidente da Junta tem que dar sobre assuntos da mais alta importância : compra de reservas de fava, tijolos de adobe para o surto da construção que se adivinha, e outros asuntos mais confidenciais que não cabe aqui referir.
Ora nessa manhã Lu Yung, submete ao Regedor um requerimento assaz estranho, pois era um misto de ameaça e de necessidade óbvia nos tempos que correm: o Peninha ( cujo nome pomposo encimava o pedido, Joaquim do Nascimento da Silva Pompa e Circunstância de Alves Duarte Queirós - não era o do Eça - dirigia-se ao presidente da Junta ( que usava discretamente um título nobiliárquico de Duque de GibralFaro entre Gibraltar e Faro ) solicitando-lhe de imediato uma vácina contra o Covid 69 mas tinha que ser da Famel pois a dos Astros da Zéna não era aconselhada para pessoas da sua idade. Ameaçava porém de se não lhe fosse satisfeito o pedido, começaria a vender no concelho vácinas falsas.
Lu Yung olhou assustada para o Regedor e disse que da Famel já não havia mas da gripe haviam sobejado imensas e o Peninha não daria conta da troca.
Assim sendo escreveu-se uma carta formal com o cabeçalho da Junta e assinada pelo Regedor convocando o Peninha para as 19h30m para permitir ser trasnsmitido em directo nas notícias das 20h na Rádio Roubacense, prestigiado posto de difusão da cultura da região.
Recebeu-se uma resposta muito amável e grata dizendo que ccompareceria à hora fixada,
Peninha fez-se anunciar e o Regedor veio expressamente ao seu encontro e levou-o para o Gabinete da Junta aonde já estavam vários repórteres e câmaras de televisão.
Uma cadeira chinesa de pau-santo de mandarim esperava que Peninha nela se sentasse e assim o fez.
Ao lado estava uma mesa manhosa que era a única que havia na enfermaria do posto de saúde, mas recoberta de veludo rubi à volta só deixando ver a bacia, amarelada e manchada pelo uso do tempo.
Na enfermaria tinham aproveitado uma embalagem vazia já usada de uma vácina da Famel, e com muita conversa e excitação a d.Deolinda, enfermeira reformada que pintava o cabelo de ruivo, tirou de uma vácina contra a gripe o seu conteúdo e chupou-a para uma seringa reluzente que dizia Pfeizer.
O Peninha, olhou com atenção e ficou contente de verificar que a vácina era da Famel.
Desenrolou devagar a manga, mas a d. Deolinda disse-lhe que tinha que fazer como o Presidente Marcelo e ficar despido da cintura cima.
Com algum rubor assim o fez e qual não foi o espanto geral quando se viu tatuado em pleno peito todas as Províncias Ultramarinas e no braço uma tatuagem que dizia "Amor de Mardrinha" Guiné.
Lá se espetou a agulha, inoculou-se a vácina da gripe e depois de uma amarguinha tomada em dois cálices com o Regedor, respondidas algumas perguntas feitas pelo Ernesto da Rádio Roubacense sobre futebol, lá partiu contente.
Diz a Lu Yung para o Regedor: - mal não lhe faz...