O PENINHA NO GRÉMIO LITERÁRIO
O Peninha já ouvira falar muito do Grémio Literário mas
nunca tinha tido a oportunidade de ser convidado para lá ir. Com o lançamento
de um livro sobre Reis e Rainhas feito pelo Embaixador Lousa Toscano surgiu
essa oportunidade e Peninha leu no convite na internet que a apresentação seria
feita por outro Embaixador de nome Freitas da Ponte e ainda de um historiador Perestrelo
da Mata.
Tinha encomendado pela net um traje de tirolês e se por um
lado pensou que ia ter frio nas pernas, por outro achou-o o mais apropriado
possível.
Quando chegou à porta do Grémio o porteiro olhou-o com
estranheza mas o Peninha limitou-se a dizer: Reis e Rainhas e ele não teve mais
remédio do que lhe indicar a escada que leva à biblioteca aonde o Autor já se
encontrava rodeado de muitos admiradores.
Peninha aproximou-se e percebeu que falavam de tudo menos do
livro e foi-se sentar na segunda fila pois sempre seria mais discreto.
Entretanto, Peninha, pouco atreito ao meio monárquico e da
realeza, não diferenciava uns dos outros e presumiu que na assistência
estivessem alguns monarcas e suas esposas. Sentiu-se bem no ambiente e começou
a fixar umas caras para depois contar.
O Presidente do grémio iniciou a sessão com algumas palavras
de circunstância e passou a palavra ao Embaixador Freitas da Ponte, que começou
por se declarar republicano dos sete costados e não perceber o que estava ali a
fazer. Falou do 5 de Outubro, citou nomes famosos da I República como o de João
Franco e assegurou que achava que em Portugal nunca mais haveria Monarquia como
nos outros países citados no livro, pois com o Dr. Costa seu amigo e PM, estava
assegurada a manutenção da República. Quis ser amável para o Autor do livro e
citou alguns cocktails e jantares em que na vida diplomática foi apresentado a
famílias reais, contando até um episódio um pouco íntimo de que a Imperatriz Fariba,
em Paris, o tinha convidado para alguns teatros e óperas e que lhe tinha
manifestado um entusiasmo afectuoso que achou excessivo. Nesse momento olhou
para a Embaixatriz que estava presente e Peninha conseguiu ver que era um olhar
de rassurement de fidelidade eterna e de amor cálido e perene.
Terminou não sem palavras de encómio ao Autor e dizendo que
do que tinha lido do livro seria de muito interesse para muita gente que
ignorava os potins da realeza. Frisou que hoje em dia os príncipes e princesas se
casavam “à balda” e pediu desculpa do uso desta palavra, no sentido de que não
interessava o sangue azul nem os antepassados. Não soube enumerar as razões
deste facto, mas atribuiu; entre outros factores, a sensualidade, a beleza, as contas
numeradas em bancos na Suíça e agora no Dubai, no fundo pessoas que alegrassem
os ambientes soturnos de palácios bolorentos e sombrios. Acabou dando um viva à
República que caiu mal e que não foi seguido por ninguém. Claro estando
monarcas na sala seria invulgar que algum deles o acompanhasse. No entanto foi
muito aplaudido e o seu discurso muito louvado e com justiça, concluiu Peninha.
Falou depois o historiador Mata e finalmente o Autor dizendo
em simples palavras o que o motivara a escrever o livro: para além do aspecto económico,
o facto de ter privado com as Famílias Reais como Embaixador de Portugal nesses
países.
Todos se levantaram e a sessão terminou. Peninha viu uma
dama com um casaco com alamares e logo concluiu – deve ser real- e aproximando-se
dela beijou-lhe a mão que ela com dignidade lhe estendeu e quando se curvou
disse em vos baixa: - Majestade!
Muita gente nova, Peninha calculou que fossem príncipes
solteiros e bons rapazes, alguns falando entre eles com enorme entusiasmo sobre
programas de jantares, contando pilhérias e pondo-se em bicha para a assinatura
das dedicatórias que o Autor generosamente assinava.
Peninha ainda olhou para os trocos para ver se tinha
dinheiro que chegasse, mas era à justa para o metro. Alguém que passou por ele
deu-lhe um apalpão nas traseiras tirolesas e Peninha pareceu reconhecer o príncipe
da Letónia, de quem se tem falado ultimamente como sendo um trans.
Desceu as escadas com alguma pompa e nisto passa por ele um
convidado que lhe diz: - ó seu pavão, que traje ridículo é esse para vir a um
lançamento de um livro com categoria e bem escrito e na presença de tanta gente
amiga do Autor?
Peninha, envergonhado nem respondeu e saindo para a rua apressou
o passo para o metro, e pensava com os seus botões tiroleses – está visto que
não pertenço a este meio!
Chegando a casa tomou um duche quente pois estava resfriado
e deitou-se cedo abrindo a televisão.
Surge-lhe no ecrán o Martins e Costa, o Jerónimo Martins e a
Catarina Furtado. Concluiu o dia com a convicção de que era com estes com quem
se dava bem, e adormeceu.
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