quarta-feira, 28 de novembro de 2018

O PENINHA NO GRÉMIO LITERÁRIO



O PENINHA NO GRÉMIO LITERÁRIO

O Peninha já ouvira falar muito do Grémio Literário mas nunca tinha tido a oportunidade de ser convidado para lá ir. Com o lançamento de um livro sobre Reis e Rainhas feito pelo Embaixador Lousa Toscano surgiu essa oportunidade e Peninha leu no convite na internet que a apresentação seria feita por outro Embaixador de nome Freitas da Ponte e ainda de um historiador Perestrelo da Mata.

Tinha encomendado pela net um traje de tirolês e se por um lado pensou que ia ter frio nas pernas, por outro achou-o o mais apropriado possível.

Quando chegou à porta do Grémio o porteiro olhou-o com estranheza mas o Peninha limitou-se a dizer: Reis e Rainhas e ele não teve mais remédio do que lhe indicar a escada que leva à biblioteca aonde o Autor já se encontrava rodeado de muitos admiradores.

Peninha aproximou-se e percebeu que falavam de tudo menos do livro e foi-se sentar na segunda fila pois sempre seria mais discreto.

Entretanto, Peninha, pouco atreito ao meio monárquico e da realeza, não diferenciava uns dos outros e presumiu que na assistência estivessem alguns monarcas e suas esposas. Sentiu-se bem no ambiente e começou a fixar umas caras para depois contar.

O Presidente do grémio iniciou a sessão com algumas palavras de circunstância e passou a palavra ao Embaixador Freitas da Ponte, que começou por se declarar republicano dos sete costados e não perceber o que estava ali a fazer. Falou do 5 de Outubro, citou nomes famosos da I República como o de João Franco e assegurou que achava que em Portugal nunca mais haveria Monarquia como nos outros países citados no livro, pois com o Dr. Costa seu amigo e PM, estava assegurada a manutenção da República. Quis ser amável para o Autor do livro e citou alguns cocktails e jantares em que na vida diplomática foi apresentado a famílias reais, contando até um episódio um pouco íntimo de que a Imperatriz Fariba, em Paris, o tinha convidado para alguns teatros e óperas e que lhe tinha manifestado um entusiasmo afectuoso que achou excessivo. Nesse momento olhou para a Embaixatriz que estava presente e Peninha conseguiu ver que era um olhar de rassurement de fidelidade eterna e de amor cálido e perene.
Terminou não sem palavras de encómio ao Autor e dizendo que do que tinha lido do livro seria de muito interesse para muita gente que ignorava os potins da realeza. Frisou que hoje em dia os príncipes e princesas se casavam “à balda” e pediu desculpa do uso desta palavra, no sentido de que não interessava o sangue azul nem os antepassados. Não soube enumerar as razões deste facto, mas atribuiu; entre outros factores, a sensualidade, a beleza, as contas numeradas em bancos na Suíça e agora no Dubai, no fundo pessoas que alegrassem os ambientes soturnos de palácios bolorentos e sombrios. Acabou dando um viva à República que caiu mal e que não foi seguido por ninguém. Claro estando monarcas na sala seria invulgar que algum deles o acompanhasse. No entanto foi muito aplaudido e o seu discurso muito louvado e com justiça, concluiu Peninha.

Falou depois o historiador Mata e finalmente o Autor dizendo em simples palavras o que o motivara a escrever o livro: para além do aspecto económico, o facto de ter privado com as Famílias Reais como Embaixador de Portugal nesses países.

Todos se levantaram e a sessão terminou. Peninha viu uma dama com um casaco com alamares e logo concluiu – deve ser real- e aproximando-se dela beijou-lhe a mão que ela com dignidade lhe estendeu e quando se curvou disse em vos baixa: - Majestade!

Muita gente nova, Peninha calculou que fossem príncipes solteiros e bons rapazes, alguns falando entre eles com enorme entusiasmo sobre programas de jantares, contando pilhérias e pondo-se em bicha para a assinatura das dedicatórias que o Autor generosamente assinava.

Peninha ainda olhou para os trocos para ver se tinha dinheiro que chegasse, mas era à justa para o metro. Alguém que passou por ele deu-lhe um apalpão nas traseiras tirolesas e Peninha pareceu reconhecer o príncipe da Letónia, de quem se tem falado ultimamente como sendo um trans.

Desceu as escadas com alguma pompa e nisto passa por ele um convidado que lhe diz: - ó seu pavão, que traje ridículo é esse para vir a um lançamento de um livro com categoria e bem escrito e na presença de tanta gente amiga do Autor?

Peninha, envergonhado nem respondeu e saindo para a rua apressou o passo para o metro, e pensava com os seus botões tiroleses – está visto que não pertenço a este meio!

Chegando a casa tomou um duche quente pois estava resfriado e deitou-se cedo abrindo a televisão.

Surge-lhe no ecrán o Martins e Costa, o Jerónimo Martins e a Catarina Furtado. Concluiu o dia com a convicção de que era com estes com quem se dava bem, e adormeceu.

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