O PENINHA FOI CONVIDADO PARA O COCKTAIL DA EMBAIXADA DA
RURITÂNEA
O Peninha tem andado em viagem por países complicados a
entrevistar líderes odiados e amados como o Presidente Trump, o Ayatola Khomeny
do Irão e até o Marco Paulo.
Regressou a Portugal (trabalha agora para um jornal digital “O
Notícias falsas” e encontrou no correio um convite da Embaixada da Ruritânea para
o cocktail do aniversário do dia nacional.
Como era a primeira vez que ia a um pôr-do-sol (cocktail em
modo possidónio) tentou saber como seria o traje e sondou no arquivo do seu
jornal e encontrou vagamente uma pequena informação que era de casaco de cetim violeta,
laço colorido a dar com o tom do casaco e calças de seda preta com uma lista
violeta e sapatos de lacrau pretos brilhantes. Achou que era muito triste e
passou tudo para dourado.
O cocktail (ou rabo de galo) passava-se numa moradia
acabadinha de construir junto à praia de Algés, com varandas e arcadas. Tinha
uma escadaria escondida que dava acesso à praia e cujo objectivo era permitir a
fuga de pessoas clandestinas e comércio de canábis para botes que arrimavam de
noite junto ao areal.
O Peninha chegou todo vestido de dourado e claro, não passou
despercebido. O Embaixador de uma família de marchantes conhecida na Mealhada,
deu-lhe um grande abraço e mostrou-se honrado com a sua presença.
Começava bem, pensou Peninha para consigo. Só faltava que
ele o apresentasse aos diversos convidados que desde logo se apercebeu
pertencerem ao meio-industrial do calçado, das carnes, dos têxteis, das bebidas
e até pareceu-lhe entrever uma cronista social cujo nome ele associou a uma
cantora italiana da moda, de apelido Pavone ou coisa do género.
Começou a girar entre as pessoas e apresentava-se e de volta
recebia uns sorrisos meio-trocistas, calculava ele por causa do traje dourado,
pois os homens estavam todos de casaco branco e laço preto. Até se confundiam
com os criados que serviam as bebidas e umas tapas.
Começou a anotar os apelidos dos convidados e mandava o
fotógrafo do jornal tirar umas fotografias e perguntava o nome de cada um, para
não fazer gafes quando as publicasse.
Uma boazona cheia de carnes em vestido de chiffon claro, de minissaia,
loira e toda pintada: - sou a Dolores de Aveiro, esposa do Antero das Salsichas.
A mão dela demorou tremente na minha, mais tempo do que a decência formal o
indicaria e nos meus apontamentos marquei uma seta para trás o que significava
voltar a estar com ela, mas talvez os dois sozinhos num dos terraços.
Um cavalheiro de bigode e cabelo pintado de preto vivo e
brilhante com a mão cheia de anéis de oiro bem grossos: Vitor Nabo dono dos Têxteis
de Alterne, muito prazer. Anotei no meu caderno que pelo nome da empresa devia
fornecer lençóis e outros apetrechos para casas de meninas, o que dava sempre
jeito conhecer.
E fui por ali adiante cumprimentando e apresentando-me aos
Neves da Carne, aos Gonçalves dos sapatos, aos Pinto de Melo da moda, a vários
modelos exóticos que se passeavam no meio das gentes, quais osgas coleantes,
mas tudo gente que o Peninha achou interessante e novato como era nestas
coisas, considerou serem representativos do jet-set.
A Dolores do Antero das Salsichas, piscou-me o olho e com a
cabeça apontou-me um canto de uma varanda mais afastada que estava sem ninguém.
Deixei-a ir primeiro e ainda me apresentei ao Sezinando Martins que tinha uma
rede de ervanárias. Chato para burro, começou-me a falar do Pau de cabinda que
vendia nas lojas e até de umas ervas chinesas que provavam melhor do que o
Viagra. A custo consegui despegar-me e avancei com naturalidade para a dita
varanda aonde a Dolores me esperava. Nessa varanda havia o pau com a bandeira
da Ruritânea desfraldada.
Lá chegado senti-me agarrado com frenesim pela Dolores que
me deu um beijo naa boca com um bâton carmim, deixando-me todo esborratado.
- Vês aí o pau da bandeira meu galã, pois foi por isso que
te chamei para aqui. O Peninha previu sarilhos com o esposo da Dolores, se bem
que a sua salsicha estivesse seguramente mais tesa do que as que o Antero
vendia na fábrica.
Já estavam os dois a encenar uma grande cena de marmelada de
Odivelas, quando se sentem passos a aproximar-se e o Peninha ficou hirto e
firme como se estivesse a admirar os pássaros que chilreavam nas árvores
frondosas do jardim da Embaixada.
Era o Embaixador que que queria apresentar ao Peninha o
Duque de GibralFaro (entre Gibraltar e Faro) que era o grão-mestre da Ordem do
Pavão Azul.
O Peninha ficou todo inchado e curvou a cabeça em sinal de
respeito. Entretanto, furiosa, a Dolores deixou-os e foi de volta para o grupo
do marido que a acarinhou e que levou uma tapona : - tira as mãos de cima de
mim, oubiste? E pôs umas trombas e calou-se.
O Peninha sempre fora curioso em relação à nobreza e tinha
ouvido dizer o avô materno que descendiam de um caldeireiro do rei D.Diniz, que
pelos serviços prestados lhes tinha dado o apelido de Caldeiras, que não tinha
chegado ao Peninha.
O Duque queria impingir-lhe uma condecoração da Ordem mas
pedia-lhe uma fortuna e o Peninha disse-lhe que ia pensar, mas desde logo
assentou na sua cabeça que fantasias emplumadas estavam fora de questão.
Entretanto chegou a hora de se despedir pois viu toda a
gente a retirar-se e ao agradecer ao Embaixador, disse-lhe com muito ênfase,
que tinha gostado e que a vivenda da Embaixada era ao estilo francês, mas que
estava muito bonita e prestava-se a festas destas.
Em voz baixa o Embaixador, como quem dá um abraço mais
apertado, disse-lhe a um ouvido: - ó homem, não se vem vestido de dourado para
um cocktail nem para sítio nenhum. Isso é de paneleiro!
O Peninha engoliu em seco e saiu e decidiu comprar o livro
da Pavone de que tinha ouvido falar a Arlete, cabeleireira, que morava em
frente dele, e trazia tudo, tudo como se devia fazer.
Não pode responder ao Embaixador sobre a sua orientação sexual,
pois poria em causa a Dolores, mas havia de a encontrar outra vez e aí se veria
como ele era um verdadeiro HOMÃO!